"O SENHOR JUSTIÇA"

[A Sobral Pinto, advogado]

Lúcido, aos noventa e oito,

partiu do mundo dos vivos,

mas, dizer que ele morreu,

não corresponde à verdade.

Morrer, ele não morreu,

e só desinformação

faz divulgar-se à Nação

tamanha barbaridade.

O jurista, o liberal,

o escudeiro do Direito,

o de vergonha na cara,

este é da posteridade.

Com sua têmpera rara

de civilista atilado

- antes de tudo, advogado -,

um padrão de dignidade.

Não temeu o Estado Novo

nem regimes militares.

De Getúlio a Figueiredo,

sobretudo um defensor

dos que curtiram degredo

pelo "crime" de pensar.

Nunca se deixou dobrar

à opressão de um ditador.

Defensor de Carlos Prestes,

embora avesso às ideias

do lendário comunista,

Sobral não era mofino.

Muitos "réus" em sua lista,

inclusive um pensador

e outro famoso escritor,

de Lacerda a Juscelino.

No "O Globo", saiu manchete:

"Morreu o Senhor Justiça".

Ora, grande incongruência.

Lá morre o bom vinho tinto!

Ele está na consciência

e nos Direitos Humanos,

está impresso nos anos,

virou lenda Sobral Pinto.

Encantou-se o liberal,

o praticante cristão.

Por isso, o conservador.

Mas tem inscrição na Históira

como o polêmico ator

das causas da liberdade.

Pobre, com sobriedade;

grande, na nossa memória.

- Fostes das letras jurídicas

o douto, o pátrio cultor,

e cultor da fé, também.

Éreis além dos mortais

e o vosso exemplo fez bem.

No entanto, o que mais complica

é que, hoje, não se aplica

nem a Lei, nos tribunais.

(Dezembro de 1991)

Fort., 21/12/2008.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 21/12/2008
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