Eram festivos os Natais que vivi na infância... Todos na casa dos meus avós. Reuníamos em torno de uma mesa grande e farta e entre conversas de adultos e traquinagens de crianças, comemorávamos o nascimento de Jesus.
          Éramos muitos, a casa parecia crescer quando todos ali estavam. Meus pais não tinham muito dinheiro para nos fazer às vontades, mas nunca deixavam de nos dar algo. Entre todos os presentes, havia um anjo. Meu tio Saulo... homem de poucas palavras, sorriso franco e uma generosidade grandiosa. Não teve filhos, mas era pai de todos nós. Acreditei em Papai Noel por muito tempo! Minha avó nos perguntava sempre o que queríamos ganhar e ele sem nenhum alarde ou necessidade de reconhecimento, atendia a todos os pedidos. Nem sei o quanto ele se esforçava pra fazê-lo, quando se é criança, não temos muita noção de custos. O que sei e o que via era a alegria transbordando no rosto de cada um de nós.
          Fui crescendo e descobrindo que o Papai Noel que depositava os presentes na árvore da casa de minha avó, era a personificação da bondade. Eu o admirava em silêncio! Ele nunca nos permitiu agradece-lo como merecia. Nós o respeitávamos como a um pai e ele observava e acompanhava o crescimento de todos. Já não eram só os presentes de Natal ou, os esperados ovos de páscoa que ele sempre trazia e minha avó escondia no quintal. Passou também a participar da compra dos livros que precisávamos, dos momentos de dor que vivemos. A ajuda financeira associada à presença, uma abnegação que jamais vi.
          Passaram-se os anos, muitas pessoas que fizeram parte dessa história, já não estão mais aqui. Ele se foi... 
          Sinto-me fruto desse amor incondicional que esse Homem me ensinou. Eu nunca tive oportunidade de lhe dizer o quanto eu o amava e quanto sua influência me transformou em quem sou. Por minha avó, fiquei sabendo que ele me admirava... Mal sabia ele que na verdade sou e sempre serei o resultado do amor que recebi e os exemplos de vida que me ofereceram.