Rainhas do Carnaval I: Emilinha Borba

Musas servem para inspirar o poeta
Musas servem para conduzir o homem
A um mundo de lágrimas
Lágrimas por Emilinha
Uma lágrima por Emilinha...
Ela está morta, como morta está
Uma parte de minha infância
Duas lágrimas por Emilinha...
No quintal brincando
Parava tudo para ouvi-la cantar
Três lágrimas por Emilinha...
Ela embalava com graça
Minhas tardes de domingo
Quatro lágrimas por Emilinha...
Pequeno como eu era
Subia na cadeira para aumentar
O som do rádio quando ela cantava
A palmada de minha mãe vinha célere
“Abaixa esse rádio, menino! Tá surdo?”
Como criança sofre, minha rainha!...
Cinco lágrimas por Emilinha...
Ela era rainha. Rainha do Rádio.
Minha Rainha, dividida com o mundo.
Do baixo da minha pequenez
Olhava a banca com a última foto
A capa da Revista do Rádio
Seis lágrimas por Emilinha...
Economizava no lanche ou no bonde.
Ia a pé pela rua, olhando a foto dela.
Uma nesga de tornozelo, a curva do braço
Era tudo tão mais excitante, nada explícito.
Despertando meus instintos ainda incompreendidos.
Sete lágrimas por Emilinha...
Sem ela, minha infância fica distante
Sem graça, sem viço, tudo muito besta.
Oito... Não, não adiantar negar...
Meu pranto é convulso.
E fica mais convulso
Quando se procura
Uma música sua
E não se encontra
Nada de nada teu
Pois já te esqueceram
Mas eu não…
Fica com Deus, Emilinha
...
Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 20/02/2009
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