DUELO

No tempo em que os índios voavam,

alguns deles, em sobrevoo a Lorena,

deram para atirar flechas sobre a cidade.

É que lutavam por acertar numa grande serpente

que deslizava por ali e que havia já engolido

alguns guerreiros.

Um amigo da serpente, o vento, vendo

ameaçada a amiga, soprava as setas e estas se iam

fixando em partes distintas da região, nunca acertando o alvo.

Assim é que, ainda hoje, vemos espalhadas por algumas ruas

e praças vestígios dessa peleja; enormes flechas abruptamente

fincadas no chão, que agora, serenas, acariciam os céus de Lorena e

estão como testemunhas de um tempo saudável, feliz.

A serpente agoniza, e, desalentada, entre as encostas de duas serras,

desliza ofegante, não do ataque dos índios,

mas ofendida do convívio com os brancos,

de cujo mal o vento não a pôde salvar.

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(Homenagem à aprazível Lorena - SP, terra das Palmeiras Imperiais, que precisa coar bem a água do Paraíba do Sul, a fim de não engolir o lixo que as cidades valeparaibanas enfiam na goela do rio). Coisas de um progresso desatento.

Antonio Leal
Enviado por Antonio Leal em 12/03/2009
Reeditado em 16/05/2009
Código do texto: T1483547
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