Pai !
Pai, lembranças de você me fazem chorar
São lembranças que me corroem o peito
E dói como se fossem me matar
choro a dor que dói, e não tem jeito
à casa em que você morou
o seu último recanto aqui na terra
As paredes estão todas umedecidas e sem cor,
Chorando a tristeza que a sua falta encerra
O seu retrato, na moldura, tal qual um santo,
Não mais sorri,assumiu feições de desgosto
A moldura, sem brilho, roubou da foto o encanto
E o vidro, amarelado, cobre de luto o seu rosto
No quintal, só vi folhas secas em movimento,
O seu jardim cheio de flores, não mais existe
O seu pé de pinha, morreu de sentimento
Tudo está morrendo, como morre meu coração triste
O gatinho que lhe visitava na hora da refeição
Logo que me viu, veio encontrar-se comigo
Ao aproximar-se, foi tomado pela decepção
Ao ver que não se tratava de seu velho amigo
A sua mesa grande da varanda, apodreceu
Sua cadeira de encosto, baixou os braços
Aquele banco, em que você se sentava, quebrou-se
É assim, pai, a vida aqui está em pedaços
O seu "radinho", não nos traz notícia boa
A sua televisão só nos traz imagem de guerra
Nesse caos, falta a sua voz que nos abençoa
E sem ela, pai, fica difícil viver aqui na terra
Falar dessas coisas, parece não ter razão
Principalmente para você que está aí no céu
Mas são frases, pai, represadas no coração
E o coração não se esquece de um amigo fiel