Ao Mestre Amigo

Oi meu querido Mestre,

não deixe que sua face se avermelhe,

fizes-te por onde assim ser citado.

Meu Mestre Amigo, não se recordas,

porém ainda que eu viva cem anos,

carregarei na memória...

Eu lembro nitidamente do dia,

que escrevi pra você um texto,

na verdade uma redação,

que descrevia o talento e os macetes,

de poetas e compositores,

numa época em que nada podia,

colocar nas suas melodias,

um grito, um brado de dor e protesto,

ao exilio, aos vetos, as armaguras da ditadura.

Tinha um nome pomposo: Entrelinhas.

O fiz em papel pautado,

o trouxe imaculado,

para que fosse avaliado, rabiscado

comentado e aprovado, pelo meu mestre.

Timida eu cheguei,

Cheia de constrangimento, as mão tremendo,

estendi o braço e o entreguei.

Passaram-se dias, até chegar a resposta,

Pra mim que a esperava, em agonia,

cada dia que ela não vinha,

pareciam cem anos, já estava quase em prantos.

Eu ficava pensando:

será que o texto está tão infâme,

que o pobre coitado, ficou consternado,

intimidado de cassar meu mandato,

e proibir-me de escrever...

Mas eis que surge, meu mestre e amigo,

peito estufado, andar de soldado,

meu texto na mão e um sorriso nos lábios.

Chegou me dizendo, em tom formal:

"minha jovem, como me pede para fazer correção neste texto?"

Eu fiquei muda, estática, ai Deus, é pior do que pensava...

Ai o meu mestre diz sorrindo, com orgulho no olhar:

"minha jovem, internacional, gloriosa, eclética e cultural,

não a nada a ser corrigido,

porque não se corrige uma obra de arte...

Se fosse professor, no boletim eu te daria um dez."

Está vendo meu mestre amigo, o que fizeste comigo?

De uma quase criança, apenas sem as tranças,

tranformou nessa mulher, jovem e intensa,

que brinca com as letras, se dizendo poeta,

que escreve essas linhas, esperando que ao lê-las,

esse agradecimento com ares de poema,

que diga sorrindo, como em todas manhãs:

Que beleza!!!

Ao Tadeu Ferreira de Faria