Pode me chamar de Michael!
 
            Fala-se (e escreve-se) muito sobre Michael. Temos, no Brasil, a mania instantânea de nos tornarmos íntimos de celebridades de qualquer tipo. Nisso nos assemelhamos (e muito) aos fabulosos Asterix e sua turma – a irreverência é a nossa herança. Não poderia ser diferente no trato ao maior símbolo da música Pop que já desceu, em uma nave prateada, ao planeta Arte.
            Impossível negá-lo e viver sem ele. Michael não fez história, curvou-a sob os mágicos passos que criou juntamente á sua inconfundível voz. Suas letras serão ainda cantadas, remontadas, ¨remixadas¨ e trabalhadas com afinco por várias gerações.
            Sou fã de carteirinha de Michael, deve pensar o leitor distraído. Nego tal fato, mas não nego que esteja diante de um ícone de nossa era. Precisamos ter humildade suficiente para reconhecer quando estamos à sombra de uma personalidade histórica. Dividiu-se o tempo da música em AMJ e DMJ.
            Tudo na sua vida foi apoteótico e agora devemos aguardar biografias e uma produção ¨Holywodiana¨ que o glorifique – embora seja isso desnecessário. Creio que não farão apenas um filme. Toda a vida do ídolo pode ser fatiada em momentos marcantes e inesquecíveis que hão de fazer com que o seu brilho ainda nos atinja por muito tempo, enquanto houver luz e eletricidade sobre a face do mundo.
            Quando ele estourou com o fabuloso ¨Billy Jean¨, minha intuição já dizia:
            - Esse cara vai longe... – Não sou chegado a Nostradamus e não possuo nenhum dom profético. Não consigo nem mesmo cantar mais de dois versos das suas músicas, mas dobro-me diante do seu talento natural e carisma inconfundível.
            O pequeno garoto explorado pelo pai nos remete às origens de uma tragédia grega típica. Ao levantar voo solo e flutuar acima da infinita ganância paterna, Michael gritou ao mundo:
            - I´m the best! – E o que se seguiu confirmou a sua trajetória única, fértil e brilhante como os trajes que popularizou; as mortalhas que o perpetuam. Ser contemporâneo dele é o mesmo que ter um elefante na sala. Você entra em casa, e mesmo que não fale bom dia, o paquiderme está lá.
            A saga de Michael ganhou tons surrealistas diante do seu inconformismo com a própria aparência – uma verdadeira obsessão narcisista. Temos aqui um traço que nos une, em diferentes graus, à mania do ídolo que competiu com seu inato talento. A vontade de mudar e subverter a sua própria natureza. Quem nunca pensou em mudar o corte, o visual, atrever-se a tentar algo novo que alterasse a sua imagem? Somente os santos estão livres desse traço; e observe que não conheço tantos assim. Primeiro mudou o cabelo, depois o nariz, o queixo e o formato do rosto culminando com um inusitado clarear cutâneo que admirou o mundo:
            - Afinal, o que é Michael?
            Surgiram piadas, charges, paródias e o mundo girava e ele no centro, refletindo suas manias que absorviam, de uma forma ou outra, a atenção dos terrestres. Vieram os escândalos, a pedofilia, o bebê pendurado na janela por um braço, o julgamento, os acordos e a absolvição. Escapou das grades e até de uma cadeira elétrica, mas o desfecho não foi menos trágico. Que filmes irão criar.
            Michael não suportou o peso de ser Jackson. De tanto atentar contra a natureza, de buscar uma química perfeita, em perseguição a preencher um vazio que o comprimia, caiu diante do peso de ser o ídolo que era. Michael matou Jackson. O microfone ficou mudo e Neverland é agora a terra de um ídolo que nunca parou de flertar com o eterno que sempre tinha em si.
            Não sou fã de Michael, destaco, nem de suas músicas ou da sua dança, embora admire muitos os seus clipes em especial ¨Remember The Time¨, mas sou ardoroso admirador da lenda que de fato se tornou e do lugar que merece ocupar na história: o elefante está na sala!