JIRAU DI/VERSO
Nº 04 – Junho.2006
por Enzo Carlo Barrocco

A poesia mineira de Adélia Prado

O POEMA

Poema Começado no Fim

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.


A POETA

Adélia Luzia Prado Freitas, poeta, contista e romancista, mineira de Divinópolis, no convés da fragata desde 1935, publicou, no início da década de 1970, seus primeiros versos em jornais e periódicos da época. Seu primeiro livro, “Bagagem”, publicado em 1976, é excepcionalmente bem recebido pela crítica. A linguagem despojada e direta dos seus textos faz de Adélia uma escritora diferenciada dentro do cenário de nossa literatura.

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Estante de Acrílico
Livros Sugestionáveis

“Repertório Selvagem” (Poesias)
Autora: Olga Savary
Edição: Multimais Editorial / Fundação Biblioteca Nacional
São doze livros reunidos em “Repertório Selvagem”, sendo dois inéditos, publicados entre os anos de 1947 e 1998. Savary é fugaz e estonteante.

“O Louco” (Poesias)
Autor: Gibran Khalil Gibran
Edição: Acigi
A poesia suave de Gibran cativa pela simplicidade . Pequenas histórias, o que torna a leitura bastante agradável.

“O Despertar do Amor” (Memórias)
Autor: Eno Teodoro Wanke
Edição: Plaquette
As aventuras e descobertas do autor quando estudante na década de 1940, em Ponta Grossa – PR. Este livro pertence à série “Os Tempos do Nunca Mais”. Wanke, no entanto, é essencialmente poeta.

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A FRASE DI/VERSA

”No fim tudo dará certo. Se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”.
- Fernando Sabino (Belo Horizonte 1923 – Rio de Janeiro 2004) contista, romancista e cronista mineiro

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DA LAVRA MINHA

Paisagem Amazônica

                            Enzo Carlo Barrocco

A manhã está deserta, à madrugada
a chuva se deitou sobre meu pasto,
o céu é um lençol molhado e vasto
sobre o igapó, a mata, a estrada...

No alto da andirobeira antiga
uns pássaros esperam pacientes
que o tempo e a paisagem indolentes
abram-se e o dia então prossiga.

Fico olhando aqui do meu alpendre
a bela poesia do momento,
longe o milharal amarelento

some. E o igarapé inchado.
De par em par tucanos e araras
riscam, de repente, o céu nublado..



Enzo Carlo Barrocco
Enviado por Enzo Carlo Barrocco em 05/06/2006
Reeditado em 14/08/2006
Código do texto: T169968
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