MÃE

Mãe, sinto que a senhora está nos deixando. Vejo nos seus olhos que a sua missão nesta terra já está cumprida. Aguarda apenas alguns detalhes para fechar este ciclo de tantas lutas para criar seus nove filhos.

Fique triste não. Sua vida continuará em nós, em seus netos, bisnetos e assim por diante. Fique triste não. Não tenha medo de fechar os olhos para esta existência que a senhora cumpriu com toda dignidade de uma mulher guerreira que sempre foi.

Seu corpo padece a cada dia, a cada amanhecer. Sei. Compartilho esta dor com a senhora, mas na alma, no coração. Se pudesse dividiria este sofrimento que lhe afoga o corpo para que vivesse um pouco mais, sorrisse um pouco mais, conversasse um pouco mais.

Dona Rita, grande dona Rita. Mãe querida que tanto me protegeu das ameaças perversas desta vida. Fez o que pôde por mim. Viúva ainda cedo, deu continuidade com firmeza para que eu virasse um adulto honrado. Nunca desanimou um dia sequer, principalmente nas fases lúgubres. Levou a vida com afinco, responsabilidade, respeito ao próximo, e acima de tudo, com amor.

Hoje pela manhã quando olhei para a senhora, meus olhos encheram-se de lágrimas. Disfarcei, mesmo sabendo que a senhora quase já não enxerga. Perguntei como estava, respondeu-me bem baixinho que se sentia melhor. Sabia que era só para me agradar.

O tempo passa lento sobre o seu leito fatigável. Não há mais nada a fazer. Mas percebo que a senhora quer sentir a vida até o último suspiro. Orgulho-me da senhora, isso me servirá de exemplo, decerto.

Deite, descanse na quietude, quando chegar a sua hora derradeira, a senhora estará no colo de cada filho seu.

Marcos Arrébola
Enviado por Marcos Arrébola em 15/07/2009
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