O céu do meu Pará

Quantos são os céus? Muitos falam em sete....entre os que crêem, judeus, babilônicos e egípcios; outros falam em três ( esse terceiro também é chamado de paraíso ou morada de Deus). Não sei ao certo quantos são, mas quero falar do primeiro, esse céu onde voam os pássaros e aviões, o que estou vendo agora, bem á minha frente através da janela do avião da TAM, rumo ao meu Pará. Consigo olhar sobre as nuvens brancas que preguiçosamente desfilam às vezes desprendidas umas das outras, ou mesmo, agarradinhas formando desenhos inimagináveis. Lembro do meu tempo de criança, na fazenda do meu avô, deitava no chão com meus primos e irmãs só para ver as montanhas e bichos que as nuvens formavam, era muito divertido. Continuamos a subir e agora, elas mudam de cor, é meio-dia, sol à pino, olho para baixo e consigo ver a floresta e rios que serpenteiam...o coração quer saltar de alegria, estou sobre as terras do norte, fecho os olhos e eles inundam de lágrimas, é a saudade e a emoção que se mesclam, sou paraense morando no Rio de Janeiro. Lembro de uma música da Lucinha Bastos, composição de Celso Viáfora que diz: “...Não vou sair, melhor você voltar pra cá, não vou deixar esse lugar pois quando tava me arrumando pra ir bati com os olhos no luar e a lua foi bater no mar e eu fui que fui ficando...” estou morando longe, mas não estou... meu pensamento diário é na minha gente, no meu povo amado, e, vez por outra, dou uma fugida até em casa, minhas raízes são e serão preservadas sempre.

À medida que nos aproximamos de Belém fico com o rosto colado na janelinha do avião, vejo que as nuvens se abrem como uma cortina em início de espetáculo, lá embaixo, o meu querido Rio Guamá com as suas águas barrentas surge...vejo várias embarcações que com certeza, carregam no seu interior, Cupuaçu, Bacuri, Açai, camarão e peixes...para serem vendidos no Ver-o-Peso, eles vem de vários lugares, Santarém, Oriximiná, Almeirim, Marajó... também tem aqueles barquinhos de lazer que levam os turistas para passeios pelas ilhas próximas da capital, lembro que um dia fui até a cidade de Ponta de Pedras, do outro lado da baía, foi muito divertido... Grupos folclóricos se apresentavam na embarcação dançando carimbó com siriá, e eu, a tudo percebia, tomando um tacacá apimentado e comendo outras iguarias (deu até água na boca), aff!!!!

Olhando a bela cidade das mangueiras, mais uma vez penso num trecho de música, dessa feita, com Almirzinho Gabriel “...Belém, Belém, será que tá tudo bem?” Espero que tudo esteja bem, as minhas filhas estão lá embaixo, quanta saudade! Como diz o caboclo, o coração quer sair pela boca só não sai porque está preso, mas juro que está chacoalhando.

Volto a observar o céu, está escurecido, começa a cair uma chuva forte, sei que em segundos ela vai embora, é sempre assim, chove rápido e forte, o avião dá uma nova subida, ficamos acima das nuvens dando voltas, esperando o tempo melhorar. Enfim clareou, Passamos sobre a Baía do Guajará, e bem à nossa frente, surge Belém! Êta mangueirosa, tô chegando, menina faceira!

O avião taxia sem pressa, desfila como em sete de setembro, garboso, imponente, faço uma prece em silêncio, graças a Deus chegamos em paz. Entro no túnel e caminho, logo mais abraçarei os meus amores, minhas filhas.

Vou sem pressa, aspirando o ar, sinto cheiro de terra molhada, desembarco e sigo para casa, minha amiga sabendo do meu amor pela cidade, dirige devagar, conversando e dando risada, me fala de uma maniçoba preparada por sua mãe, cozida por muitos dias...não vejo a hora de degustá-la.

O sol voltou a brilhar, olho para o céu e vejo os pássaros voando, entre eles alguns urubus, agradeço a Deus por tanta beleza, tenho certeza que não tem céu mais lindo do que o do meu Pará.

FLOR DO GRÃO-PARÁ

(Chico Sena)

Sim, eu tenho a cara do Pará

O calor do carimbó

O uirapuru que sonha

Sou muito mais,

Eu sou,

Amazônia

Rosa flor vem plantar mangueira

E o cheira cheira do tacacá

Meu amor ata a baladeira

E balança a beira do rio mar

Belém, Belém acordou a feira

Que é bem na beira do Guajará

Belém, Belém, menina morena

Vem Ver-o-Peso do meu cantar

Belém, Belém és minha bandeira

És a flor que cheira do Grão-Pará

Belém, Belém do Pará natinga

Do bar do parque do bafafá

Bem-te-vi, sabiá, palmeira

Não dá baladeira

Deixa voar

Belém, Belém acordou a feira

Que é bem na beira do Guajará

Belém, Belém, menina morena

Vem Ver-o-Peso do meu cantar

Belém, Belém és minha bandeira

És a flor que cheira do Grão-Pará.