No Universo de Borges

Para Jorge Luis Borges (In memoriam)

Em todo espelho me vejo

num labirinto de Borges,

quando me encontro e me perco

no que me prende e me foge.

Por que não olho pra dentro

Igual aos olhos de Borges?

Meu tempo escorre pra fora

numa ampulheta quebrada.

Apenas canta o que chora

ferido da própria espada,

sob o signo da espora

na pampa desconsolada.

A face que me revela

na face lisa do vidro

me faz prisioneiro dela

num estranho refletido.

O mundo externo é uma cela

onde me encontro detido.

Eu vivo fora de mim

e cada verso que foge

transita pelos confins

nas setas do meu alforje.

Eu sou o inverso de mim

no universo de Borges.

Pois, nos porões da memória,

por não ter chave, não entro...

Meus olhos de olhar pra fora

não sabem olhar pra dentro.