Homenagem à um pai

Olhos castanhos, pele morena, cabelos escuros, magro. Esta é a descrição física do meu pai. A princípio um homem comum, como qualquer outro. Mas ele traz uma personalidade simples, uma honestidade e ingenuidade característica de criança; criança que vive dentro do coração dele. Aos 54 anos não encontra mais emprego, pois o mercado de trabalho exige não apenas experiência, mas uma idade ativa. Ele é o “homem do parquinho” como todo mundo o conhece ou, agora, “o homem do caldo de cana”, pois teve que colocar um carrinho móvel para vender caldo de cana e ganhar uma pequena quantia que nos garante o pão e o leite do dia.

A história do parquinho é a versão de um antigo sonho do meu pai. Ele sempre gostou de crianças e seu maior desejo era ter um parque de diversões. Por isso, em um terreno em frente a casa, construiu pequenos brinquedos com peças de motocicletas...vire e mexe anda pintando os brinquedos quando começam a estragar a pintura. São gangorras, brinquedos giratórios...

Meu pai é paulista, nasceu em Baguaçu, em 1952. È o quarto filho de uma família de 8 pessoas. Veio para Minas quando conheceu minha mãe. No início só se correspondiam por cartas, depois meu pai passou a vir ao Areias uma vez por mês, para namorar minha mãe e no final de 6 meses de namoro decidiram se casar. Meu pai largou tudo, família e emprego para tentar a vida aqui. Trabalhou em várias profissões: mecânico, pedreiro, office-boy, motoqueiro... mas creio que a profissão que lhe trouxe mais alegria era a de palhaço de circo, isto na época em que ainda era solteiro. O circo sempre fascinou meu pai . Minhas melhores lembranças são da infância, quando ele contava estórias, mesmo as de terror ou folclore brasileiro, como a do saci – pererê, que me deixava amendrontada.

A idade chegou, muitas dificuldades nos foram postas. Porém de tudo, a maior lição que meu pai me ensinou foi a de nunca deixar o espírito infantil morrer dentro de nós. Liberar a criança que todos temos dentro de nós quando sorrimos, quando transmitimos carinho ou simplesmente quando olhamos sem querer dizer algo é uma das ações mais transformadoras que podemos realizar.

Não somos ricos, não temos bens, trabalhamos muito e ganhamos pouco, entretanto, tenho uma grande família, unida, que ama sem pedir nada em troca, que se doa e que quer praticar o bem comum. E a base começa pelo pai e a mãe. Quisera que todas as famílias fossem construídas sob pilares tão estáveis como estes...fica o desejo e a esperança de que isso se concretize num futuro não muito distante.

Pai, parabéns pelo seu dia e que outros homens possam ser inspirados através da sua alegria.