Ao Querido Vivito

Quando criança emocionava-me ao ouvir o 78 na vitrola, na Rua Guapuí, 47:

Reunidos nesse dia,

De tão grande alegria...

Isso acontecia antes de cantarmos o tradicional “Parabéns pra Você”. E eu sabia que era um momento de muita alegria. Que não era preciso ser desejada. Ela acontecia. Meus amiguinhos em volta da mesa de doces: brigadeiro, cajuzinho, docinho de coco, de batata e o bolo no centro da mesa. Meus pais por perto. Meus irmãos mais velhos também. O mais velho de todos, Vivito, também devia estar por ali.

Ou em Belo Horizonte, na Rua Paula Afonso, 391, comemorando o aniversário de alguns de seus filhos da mesma maneira. Com a mesma alegria. Ou permitindo que eles comemorassem o aniversário de seu pai.

Hoje nem tudo é como antes. Não existe mais a Guapuí, 47. A Paulo Afonso, 391, foi vendida. Quase tudo mudou. Meus sobrinhos cresceram, meus irmãos ficaram ainda mais velhos, meus pais já não estão. Mas atrevo-me a dizer que a alegria é o que sempre devemos desejar. Devemos persegui-la. Foi para isso que viemos aqui. Foi para isso que viemos ao mundo. E no mundo nos deparamos com tanta coisa capaz de nos alegrar. Ou fazer com que possamos levar alegria a alguém.

Embora por vezes reconheçamos que a vida é repleta de nãos. E mesmo que não possamos com nossos braços estreitar as pessoas amadas, pelas mais diferentes razões, nossos olhos servirão para abraçá-las com ternura e carinho do mesmo jeito. Basta que tenhamos a iniciativa desse desejo. Basta que nos coloquemos ao sabor do vento que nos trouxe ao mundo, ao sabor do verdadeiro sopro da vida, reservando-nos a contingência de perseguirmos o prazer e a alegria enquanto por aqui estivermos.

A comemoração desse aniversário do grande Vivito atende a esse desígnio. Ao desígnio natural das forças divinas, ou das forças da natureza, segundo o qual devemos vir ao mundo para ser felizes. Cada um de nós veio com a sua alegria até aqui. Juntas, ou lado a lado, essas alegrias marcarão de forma indelével e inesquecível o belo momento que estamos vivendo, não sendo possível que os mais diferentes tipos de não possam suplantar a pujança e o vigor de uma força que vem do coração.

Estamos aqui para fazê-lo e vê-lo feliz. O que imediatamente nos fará felizes também, já que o sentimento é de mão dupla. Felizes como as inúmeras crianças – uma das paixões do Vivito – cuja felicidade o nosso irmão teve a chance de proporcionar ao longo de todos esses anos de vida. Felizes como eu ficava quando, já não tão criança, chegava a Belo Horizonte. Íamos jogar sinuca e o Vivito, para que me alegrasse um pouco mais, permitia que eu ganhasse as partidas iniciais. Felizes como eu, certamente uma criança na Central do Brasil, gostaria de permanecer no seu colo e, não podendo, chorava, ao vê-lo ingressar no Vera Cruz que deveria levá-lo de novo a Belo Horizonte.

Felizes continuaremos sendo, porque estamos fazendo-o feliz.

Feliz 80 anos de vida, querido Vivito.

Rio de Janeiro, 10 de março de 2006

Aluízio Rezende

(discurso pela passagem do 80º aniversário de meu irmão Altevir Rezende, em Cabo Frio, RJ)