Mulher de louça

A mulher lava pratos enquanto faz poesias raras.

Aquela mulher lava panelas enquanto pensa em atentados ensaios.

Em sua pia brilhante de detergente, ela pensa num modo de fazer a gente sonhar.

Naquela pilha de louças a serem limpas, empilha pensamentos inéditos...

Viaja por estradas desconhecidas, revê caminhos percorridos e rima solta dela mesma.

Aquela mulher percorre ruas que nem queria enquanto a espuma multiplica sonhos.

Ela discute política com suas xícaras e depois formata o resultado em alinhamento diário.

É entre as louças do café da manhã e a do jantar que tece um livro de fatos acumulados.

Naquela mulher, lavar a louça e desafiar a filosofia pura, a coexistência é perfeita lógica.

Ela pacifica em si extremos mundiais entre o almoço e a ceia da meia-noite.

Aquela mulher tem a sabedoria da cozinha correndo junta ao conhecimento da alma.

Fico aqui, observando a beleza crua de seus gestos gentis para com as louças, panelas, talheres, sua poesia e comigo...