TAMBÉM DO PASSADO

Também do passado...

Certas coisas que aconteceram e marcaram, deixaram em minha vida um cheiro de saudade e a doce e palpável sensação de que tudo parecera acontecer hoje!

Era menino sem muito ainda entender, mas não precisava nenhuma erudição ou conhecimento aprofundado, para que eu ali assentado de olhar fito na porta, observasse, de roupa cor cáqui, chegar cansado, (não lembro bem, mas talvez suado) aquele moço cuja presença me falava tanto.

Aquele cheiro que era só dele, aquele abraço que só ele dava... no meu grande universo de poucas experiências era o melhor, por si só me bastavam. Mal sabia eu o alcance que isto teria em minha vida. Às vezes (depois que ele chegava) íamos lá pros lados do Valério Doce, lá no Diógenes, pra buscar mamãe, alegria de um passeio ao lado daquele moço acompanhado do velado desejo de ganhar uma “moedinha de chocolate”. Outras vezes ficávamos ali em casa mesmo! No rádio passava “musishow” e no fogão era preparada a maior iguaria que já provei; água na boca e no prato aquele arroz, quentinho e soltando fumaça... por cima um ovo frito, gema molinha por cima era estourada, o banquete estava pronto!

No fim da noite, eu, deitado em seu peito, me acabava de tanta felicidade ao ouví-lo falando: “MA-RI-TACAAAA”. Não sei de onde lhe veio tal inspiração, nem me interessa saber mais, pois, o mais importante era estar ali, independente do que pudesse ele falar. E os passeios no carrinho de bebê do meu irmão bairro afora? Sentia-me um bandeirante, ou um astronauta pisando planetas nunca dantes visitados. Meu Deus! Como diz a música, eu não sei por que a gente cresce!

De lá pra cá muita coisa se passou. Cresci, amadureci, hoje tenho barba no rosto, mas não sai da boca aquele gosto de arroz quentinho com gema de ovo estourada por cima. E hoje, olhando este moço (que já não é mais tão moço assim) e lembrando de todo aquele carinho para mim dispensado, confesso sentir-me um tanto quanto impotente! Impotente por saber que nunca conseguirei retribuir por tantas lembranças boas. Impotente por perceber que às vezes nem carinhoso sou. Nesses instantes é que me rendo e reconheço, portanto, que não há muito a fazer. Gestos de amor são irrepetíveis, pois aquele amor uma vez derramado foi único, incomparável.

Não imaginei que ao aceitar o convite para esse café pudessem vir estas lembranças. Que café gostoso! Talvez tenha o gosto daquele “café preto e de sabor inconfundível” que fora mencionado. Que bom foi poder me assentar com este moço, poder até mesmo enxergar seu rosto, sentir seu cheiro e seu abraço de novo.

Obrigado meu pai, por me mostrar o quão delicioso é tomar um bom café!

Te amo!

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 19/09/2009
Código do texto: T1819503
Classificação de conteúdo: seguro