Ao injustiçado Paulo Honório

Estou injuriado com isto: “Casa-se aos 45 com a professora Madalena, que, boa e compassiva por índole, passa a se interessar pela vida de miséria e agruras dos empregados da fazenda e a interceder por eles junto a Paulo Honório”. É uma crítica sobre o romance São Bernardo. E o mais incrível, nas universidades e especializações, a toada é esta: Paulo Honório um monstro, e Madalena uma santa.

Eu fico puto da vida porque não consigo ver nada disso nas páginas magistralmente escritas por Graciliano Ramos. Aonde que Madalena é ‘boa e compassiva’, uma santa?

Ela é uma cobra venenosa que comete suicídio só para matar de remorso o marido apaixonado. Ela casou-se por interesse financeiro achando que distribuiria o dinheiro do esposo entre sua laia. Ela é compassiva com a ralé subserviente. Madalena é uma verdadeira naja que entrou na vida de Paulo Honório com o nítido intuito de destruí-lo. E conseguiu, infelizmente.

Antes de Madalena chegar à São Bernardo, esta era exemplo de progresso, sucesso e vitória, que é o que todo ser humano, de uma forma ou de outra, almeja; inclusive a patuléia a qual Madalena tentava proteger com o dinheiro alheio. Depois da infeliz chegada de Madalena, a professora que corrompia a escola para passar de ano, à fazenda, esta foi de paraíso a inferno. Findou despencando no despenhadeiro do fracasso e foi ao fundo do poço, à derrota total. A anti-heroína Madalena, achando pouco a falência, ainda decidi suicidar simplesmente para matar de culpa o homem que a amou.

Eu não compreendo como os intelectuais brasileiros enxergam tantas virtudes nesta vigarista chamada Madalena Honório. Ou será que eu sou mesmo a misantropia em espécie?