Dia das Crianças

Wilson Correia*

Fábula sobre a criação do Dia das Crianças

A Grande Vida estava sem forma e desejou ganhar um corpo visível. Ela queria passar pela Terra como um ser que pudesse ser alguém, ter nome, poder sentir, pensar, escolher, agir e fazer história. Mas esse alguém em que a Grande Vida queria se transformar tinha de ter uma característica fundamental: poder multiplicar-se para que o mundo ficasse cheinho de outras vidas na forma corporal. Então, do desejo profundo da ânsia da Grande Vida nasceu a mulher, razão pela qual a comemoração do dia dela vem primeiro no calendário, todos os anos.

Passado um tempo no mundo, a vida na forma de alguém notou que com um ser com quem dividir o nome, sentimentos, pensamentos, escolhas, ações e história ela só tinha a ganhar. Ademais, sozinha ela não estava dando conta de se reproduzir em outros corpos como a Grande Vida lhe havia solicitado. Por isso, da essência do desejo de companheirismo da Grande Vida nasceu o homem. É por esse motivo que o dia dele, homem, é sempre comemorado depois daquelas datas dedicadas à mulher. E todos os anos é isso o que acontece em nosso calendário.

Certo dia, a mulher e o homem estavam sentados debaixo de um pé de mamão e viram quando um fruto, extremamente maduro, soltou-se do talo do mamoeiro e se espatifou no chão, quase apodrecido. Mulher e homem somaram seus corações e seus cérebros e pensaram que aquilo também podia lhes acontecer: se envelhecessem o coração, o cérebro e a alma com que se mobilizavam vida afora, poderiam se desmanchar igual ao mamão ou chegarem a apodrecer. Aí eles criaram o dia dos verdes, que hoje chamamos Dia das Crianças.

Parabéns a todas as crianças, às pequenas e às crescidas, que são a expressão da vida em seu frescor e brilho de verde-esperança – esse que nos faz lembrar que a vida pode sempre ser acrescida de mais vida; com a qualidade que brota do cultivo e da vivência de valores como os do companheirismo, pureza, generosidade, alegria, paz, amor, doação, cooperação, solidariedade, fineza, educação, liberdade, responsabilidade, justiça, virtude, coragem, ação, bons sentimentos, e muita, muita compreensão, sempre baseada no afeto da vida em comum.

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*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009.