PROFESSORA

Não, não é ruim ser professora. É a melhor coisa do mundo. Penso até que é melhor ensinar do que escrever poemas. E sabe você por quê? Claro que sabe. Ensinar é a poesia em carne e ossos. Mais ossos do que carnes. E a gente faz desses ossos o cálcio da vida. Ensinar é tristeza e alegria todo dia. Tristeza porque antecipadamente sabemos em que mar aqueles alunos vão aportar. E a alegria existe porque, mesmo disto sabendo, lutamos contra as ondas. E não é que, de repente, vem a bonança, a surpresa?

Meus queridos, amados alunos, sou eu a agradecer. Também peço perdão porque sei que em muitos momentos fraquejei. Desculpem-me por haver ensinado a vocês as frias e irracionais regras gramaticais. Preciso me perdoar por isto. Obrigada porque choramos juntos declamando Castro Alves, Florbela, Cecília; porque cantamos Vinícius. Obrigada porque me deram amor. Eu também dei. E dou. Obrigada porque, mesmo sabendo das durezas da vida de um professor, muitos de vocês me disseram: Eu quero ser a senhora. E tantos conseguiram. Meus queridos colegas, desejo que estejam felizes. Um abraço carinhoso para os que hoje são médicos, juízes, petroleiros, comerciantes. Mais abraços e beijos para os largadões, boêmios, poetas, músicos, compositores. Para as adolescentes sonhadoras, as donas-de-casa, as solteiras, as casadas. Muitos e muitos beijos para os adolescentes, esses me ensinaram o segredo de ser jovem sempre. Para os adultos porque comigo compartilham a sabedoria da experiência de suas histórias de vida.

Meus amores, hoje não. Hoje deixemos o sistema político em paz, o salário, as injustiças. Deixemos tudo de lado. Não falemos disto. Eu quero guardar em mim a maravilha que são vocês. Aceitem o meu incondicional amor.