SILVANA - a loira verdadeiramente inteligente

Há muito, a vida não me surpreende. E quando surpresas existem, o meu poder de resiliência entra em ação. Isso, de certo modo, torna-me um pouco hermético, mas, não de todo, insensível.

O fato é que conheço uma loira (legitimamente) inteligente, muito inteligente. Do tipo que meias palavras são atas intermináveis; a primeira sílaba já basta; o olhar já diz tudo; os pequenos gestos são coreografias perfeitas – a ópera já está entendida. Leitura óptica – coisa do passado. Leitura espiritoalma é a tecnologia.

Enquanto eu faço uma coisa de cada vez, ela faz de cada vez a oportunidade de realizar várias tarefas. Em audiência, enquanto atende ao telefone, dita para mim a pauta da reunião; lê e-mails; atualiza a agenda; responde mensagens e provoca inúmeros debates sobre a nossa eficiência, problemas de equipe, planejamento dos professores... Atordoado, chacoalho os meus neurônios para tentar acompanhar com relativa eficiência o que está acontecendo e, humildemente, peço que repita algo que, porventura, tenha perdido. Ela, pausada e generosamente, diz que queria ter a minha calma, a minha paciência, a minha sabedoria.

Quando nos contrataram, a ideia era de um complementar o trabalho do outro, tendo em vista as nossas diferenças e, apesar delas, a nossa sintonia e a nossa amizade. Com o tempo, entretanto, não fosse alguma atividade de leitura, reflexão, participação em reuniões e outras, digamos...mais estáticas, a divisão de trabalho seria totalmente injusta. Ágil e centralizadora (levemente autoritária), facilmente, resolve problemas, dá encaminhamentos e toma decisões. Se a vida fosse um jogo de beisebol, a posição dela seria de Pitcher e de Catcher simultaneamente. Muitas vezes, tentou me delegar missões e, com certeza, a outros também. A inquietude aliada ao espírito de urgência e à expectativa de eficiência levaram-na a executar o que delegara, antes que qualquer um de nós esboçasse a efetivação do que nos fora pedido.

Não gosto de vê-la mal-humorada. Prefiro a astúcia de suas tiradas muito bem-humoradas a encontrá-la com fisionomia de derrota do time do Olímpico.

A alemã de cabelos louros e olhos azuis, além de tudo, é muito boa no volante. Não conheço ninguém que a supere. Despojada dos bens materiais, usa-os com a consciência e a percepção da utilidade que cada coisa tem; o lugar devido na vida: na dúvida, na dívida, na dádiva.

Humana, comete muitos erros. Seria fácil enumerá-los. Certamente, como a qualquer um de nós, que acertamos e erramos...não fosse pela subjetividade que o nosso jugo possui.

Transpondo a cortina que envolve essa loira inteligente, responsável e exigente, vejo a menina moleca, brincalhona, sorridente, pueril; e a mulher solidária que não mede esforços, não olha a quem, simplesmente, faz o bem.

Contrariando as piadas e histórias sobre loiras, posso dizer que conheço essa loira, ela existe de verdade. Acabei de conversar com ela ao celular. Hoje, dia do aniversário, meritoriamente, está em casa, celebrando a inauguração de nova idade e comemorando a vitória do Grêmio sobre o Palmeiras.