AO AMIGO/IRMÃO QUE SE FOI

Sérgio Martins Pandolfo*

Faleceu às 9h do dia 27 deste mês, meu dileto Amigo, colega e confrade literário, Dr. Hélio Titan. Cultiváramos uma fraterna amizade que já se prolongava havia mais de 55 anos. Costumávamos mesmo repetir, com amistosa jocosidade, tratar-se de uma amizade hemissecular.

Junto com outros colegas estudamos, preparando-nos para o vestibular, nos anos do àquela altura curso científico, na casa do Hélio, onde sua mãe D. Irene, uma distinta e afável senhora e seu pai, o “velho” Edgar Titan, bonachão e amigo de todos nos recebiam com distinção, fidalguia e farta mesa de lanche, aceitando as molecagens que, próprias da época e da idade, fazíamos, tangidos pela tolerância paterna e pela ansiedade dos estudos, das provas e, enfim, do bicho-papão, o vestibular.

Aprovados continuamos colegas de turma e de estudos até a formatura em 1963. Segui a trilha da Cirurgia e da Tocoginecologia, ele a espinhosa senda da Pediatria, de muitos chamados noturnos. Foi um grande profissional: paciente, proficiente, diligente e, como tal, escolhido para ser o pediatra de meus filhos, como também o foi de meus sobrinhos. Uma ausência um pouco mais prolongada dos meninos e ele, responsável, logo telefonava para lembrar as vacinas, dietas e as aferições biométricas. Fui seu padrinho de casamento e um admirador de sua atuação profissional. Como eu, era avesso a festas e badalações mundanas e sobre isso vez por outra conversávamos.

O Hélio, talvez por ter perdido a mãe ainda moço, tinha profunda afeição e enorme admiração por minha mãe – da qual amarguei a perda e ainda me recomponho, há quatro meses – a quem tratava carinhosamente de “minha madrinha”, ligando sempre para ela nos natalícios e em efemérides festivas como o Círio, o Natal, o Ano Novo e quejandos. Por diversas vezes dedicou-lhe poemas de grande sentimento, sendo que o último deles poucos dias antes de seu desencarne, que ele contritamente muito lamentou.

Era um leitor voraz, escritor compulsivo e um poeta de rara sensibilidade e inspiração. Produziu centenas de textos em prosa e poesia, maioria deles publicado nos jornais O Liberal e Amazônia, mas também em revistas locais e regionais, conquanto – e a mal de meu grado e incentivo - nunca deles tenha feito uma seleção para reuni-los em livro, para deleite de seus inúmeros amigos e apreciadores de sua pena. Escrevia sobre tudo - inclusive sobre cosmologia, ramo do conhecimento a que muito se dedicava e tinha pessoais estudos - e não raras vezes alimentou polêmicas.

Fundamos em 2001, junto com outros colegas, a regional paraense da SOBRAMES (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores), de cuja Diretoria inaugural fui o Presidente e ele o Tesoureiro. Foi muito dedicado à SOBRAMES, em cujas sessões literárias tinha sempre a apresentar um texto, uma poesia ou alguma manifestação mais erudita, inclusive no campo da cosmologia que bem dominava (v. Fotos no Site do Escritor - abaixo).

Desde a instalação da SOBRAMES alicerçamos mais fundamente nossa convivência literária. Conversávamos quase quotidianamente pelo telefone ou então elaborávamos longos pareceres pela internet. Trocávamos escritos aos quais apúnhamos nossas críticas. Enquanto se manteve vivo O Parauara, boletim informativo e literário da SOBRAMES-PA, de que fui editor por sete anos, nunca deixou de colaborar em um único número sequer e quase sempre pedia para escrever o Editorial. Aquando da edição de meu terceiro livro (de poesias) não pensei duas vezes, convidando-o para fazer a Apresentação, o que fez com o coração e a competência de sempre.

Ainda no dia de sua morte, ao abrir pela manhã o e-mail, lá estava uma mensagem literária, de tom levemente jocoso, que ele havia postado à 1h e 30min desse mesmo dia, ou seja, oito horas apenas antes de ter sua preciosa vida ceifada por fulminante colapso cardíaco. Titan era profundamente religioso, devoto fervoroso de N.Sra. de Nazaré e residia, coincidentemente, em um prédio do largo-santuário da padroeira dos parauaras. Sua boníssima alma certamente continuará a residir junto dela, só que agora, e definitivamente, no plano celestial.

Descansa em paz, Amigo.

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(*) Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES

serpan@amazon.com.br - www.sergiopandolfo.com

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 28/11/2009
Reeditado em 30/12/2009
Código do texto: T1948383
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