A ressuscitadora de netinhas

Este texto faz parte do Amigo Oculto entre os escritores do Encanto das Letras.

Tente descobrir para quem eu o escrevi. Para isso, veja todos os que participaram da brincadeira:

http://www.encantodasletras.50webs.com/amigooculto.htm

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É fácil falar sobre aqueles que admiramos, mesmo que não os conheçamos pessoalmente – coisa cada vez mais comum nessa era virtual, que ainda me causa um tanto de estranheza. O difícil mesmo é homenagear quem admiramos e não temos a chance de estar ao lado, tocar, sentir de perto a aura e o sorriso, porém sem ficar na superficialidade, apenas tecendo elogios (ainda que merecidos) àquela parte da alma que se expõe ao conhecimento público: a de escritor.

Há que se tomar cuidado para não confundir criador e criatura, porém é certo que, em todos os textos, o autor tempera as palavras com sua sensibilidade, misturando tudo com sua particular visão de mundo. O resultado são textos densos ou leves, divertidos ou reflexivos, sentimentais ou duros, realistas ou fantasiosos...

Porém, de quem falo, os textos são tudo isso e um pouco mais. De quem falo depreendo um espírito evoluído, questionador, vivido e, acima de tudo, pensante. Mas para não ficar na já citada superficialidade, procurei saber mais sobre ela, algo além das mensagens que passa em seus textos invariavelmente interessantes. Procurei o que dizem dela, os que tiveram a sorte de conhece-la além das palavras que apenas posso ler: os que puderam, inclusive, ouvir-lhe a voz.

Soube, por esses afortunados, que ela é “doce e amorosamente sábia”. Que distribui “compreensão, respeito, dignidade”; que tem uma família linda e que consegue inclusive ressuscitar netas*; que é “espirituosa e franca”. Tanto foi dito sobre ela, que me pareceu conhecê-la há anos.

Soube também que é pisciana. Só podia ser. Risíveis argumentos vazios de sentido para ela, estes, sei bem; mas, comparando alguns trechos de seus textos com o que diz a astrologia sobre a sensibilidade e a humanidade dos Peixes, encontrei paralelos interessantes. Seu agnosticismo e sua incredulidade, aliados ao desejo de desvendar a alma do outro (e a sua própria), a meu ver são, ainda que em outra medida – talvez uma medida mais racional - típicos dos nativos do signo de Peixes, pois a fé e a religiosidade lhes são temas caros. Porém o que a caracteriza é, sem dúvida, como ela mesma diz, o hábito de “cavaquear com o pensamento dos outros, ou melhor, atirar com a pólvora alheia”: apenas um pretexto para, por meio de citações de filósofos, escritores e pensadores, colocar ela mesma seu ponto de vista, divagar sobre as idéias expostas e nos brindar com muita inteligência, articulação e sabedoria, características de alguém cuja sólida cultura não é uma dádiva: é uma conquista.

Pois é, fiz o que passivamente podia fazer: eu a li. Li muito. E me espantei por ter deixado passar tanto tempo sem me locupletar assim de reflexões sérias, frases emocionantes, observações divertidas, inúmeras citações filosóficas e um livre-pensar profundo e engajado. Encantei-me com sua sabedoria, sua experiência de vida, até com sua profunda melancolia entranhada na alma, que nada parece aplacar...

Não sei se consegui meu intento, mas juro que tentei. Sei que não é fácil conhecer a fundo alguém que está fisicamente a alguns milhares de quilômetros de distância, mas é fácil falar sobre quem admiramos... e eu, sinceramente, sempre admirei (e agora admiro ainda mais) este "ser metafísico", esta sábia e doce mulher a quem me coube a alegria de homenagear.

“Quero fugir dessa realidade.

Quero fugir de mim mesma.

Porque já não sei mais quem sou;

se sou real,

se existo.

Transcendo.

E me torno difícil de compreender

e sem ser filosoficamente profunda,

cabe-me tão somente a

adjetivação de um ser METAFÍSICO.”

Zélia Maria Freire

3/10/2008

* Crônica "Acordei 'morrida'... também", de Zélia Freire, de onde tirei inspiração para o título:

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1184822

Alguns textos que falam de Zélia no RL e que li para conhecê-la:

Evelyne Furtado - "A noite de Zélia Maria Freire" e "Uma conversa com Zélia Mara Freire" (crônicas)

Monica Mello - "Um banho nas águas profundas de Zélia Maria Freire"

Malu - "Malu entrevista Zélia Maria Freire" (entrevistas)

Kekel - "Um cafezinho com Zélia Maria Freire" (crônicas)

Jacó Filho - "Zélia Maria Freire - Feliz aniversário" (acrósticos)

Kekel- "Zélia Maria Freire, você ainda aceita meus parabéns?"