VISITA A DONA SONIA

15 DE JANEIRO DE 2015

Depois de 03 horas rodando sob a Fernão Dias desembarcamos no farol da Via expressa com Avenida Coração Eucarístico. Erguendo a vista contemplei, pela primeira vez depois de mais de dez anos, o local que tantas vezes estive nas idas e vindas à Capital mineira. Eu, os meninos e a patroa tomamos o caminho da pracinha da Puc. Nos dirigimos a um atalho para chegar à Avenida Delta onde caminhamos até a Barão de Guaxupé. No pé do morro o menino mais velho já murmurava de ter que subir a pé aquele velho e conhecido caminho meu. Sua mãe tentou acalenta-lo e eu na intenção de chegar ao destino que nos levara até ali fui “escalando” lenta e continuadamente a ladeira indiferente ao murmúrio do garoto mais velho e com o caçula aos ombros.

Alcançando a Mariano Procópio, ofegante e suado, desci dos ombros Benjamin e dando-lhe as mãos esperamos sua mãe e irmão para juntos descermos até a Ribeiro de Paiva. Antes do reinício da caminhada observava aquele pedaço de BH onde por diversas vezes passei. Algumas das paisagens urbanas ainda me eram familiares , outras bem novas. O transito não mudara nada. Carros subindo e descendo freneticamente. O 9414 ainda era o mesmo, com seu dialético movimento de ir e vir deixando e levando gente.

Alcançando a primeira rua que atravessava depois de chegar a Mariano Procópio estranhei por ter acreditado que havia me confundido. A conhecida rua sem saída terminava na Delta. Esfreguei os olhos e procurando a placa vi que era ela mesmo: Avenida Ribeiro de Paiva.

A mangueira não estava mais lá. Somente o tronco dava sinal de sua existência que agora servia de mesa para jogar damas. Desci até lá e vi que o prédio que dantes morei se tornara pensão pra estudantes. No que estranhei, fui logo perguntando aos jogadores de dama.

_ Bom dia! Algum de vocês sabe me dizer se aqui ainda é seminário?

Um barbudo já de cabelos bem grisalhos e da mesma forma a barba foi o primeiro que se virou para mim no intuito de responder enquanto o outro indiferente continuava a olhar o tabuleiro.

_ Ainda tem padre aí sim. Só que agora ta tão pouco que tão alugando quartos pra moças que estudam na católica.

Agradeci a informação e voltei com minha família a subir a rua pensando que o dito homem não me era estranho. Sua feição me lembrava uma certa Kombi de verduras. Bobagem!!! Tratei logo de esquecer e pensar no numero da casa que me levara até ali. Não tinha certeza se era 178 ou 228? Pela aparência das casas não podia mais reconhecer pois as mudanças foram muitas. Perscrutando número a número minha atenção se voltou para o 218. Isso!!!, duzentos e dezoito. Esse é o número. Mas a casa tava bem diferente. O portão marrom de meia grade dera lugar a um enorme portão de alumínio com cerca elétrica por cima e suas respectivas plaquinhas de não me toque se não te choco. Toquei o interfone e percebi que uma camerazinha me observava. Não tardou e uma conhecida voz me perguntava o que queria.

_ Por favor, Dona Sonia !?

Mau terminara de pronunciar e o portão fez um barulhinho e se abriu. Não tardou e uma simpática menininha toda sorridente me atendeu.

_ Pois não!

_ Bom dia!, disse à garotinha que sorria para min. Dona Sonia está?

_ A vovó? Ela ta sim. Vou chamar.

Ual!, pensei comigo. Dona Sonia já é vovó e o “Seu Juca” vovô... ... ...

Um grito me trouxe de volta de meus pensamentos.

_Pode entrar a vovó ta chamando...

Empurrei o portão que já estava entreaberto e primeiro passaram a patroa e as criança e em seguida eu. O pátio ainda era o mesmo com seu jardinzinho ao no canto direito todo gramadinho com flores esparsamente plantadas e uma “estatuetazinha” de um casal de velhinhos no balanço. Ao final do pequeno jardim o tanque ainda era o mesmo com a vasilhinha de sabão em pó. _Seu Juca ainda conserta carros??, pensei comigo.

A “copavanderia” ainda estava lá a receber, como Maria e Marta à Jesus, todos que se achegavam. Quantas vezes ali degustei um delicioso café acompanhado dos simples e deliciosos quitutes “Sonianianos” (O bolinha de finquinha, hum!!!). E os sucos temperados com a colherinha de longo cabo (de origem sorveteiriana). Tinha também uma mesinha de pé de máquina e tampo de pedra onde a prosa menininha da casa de cima insistia em machucar o dedo. (Onde está Amanda?) Sagrado lugar!!! Onde encontrávamos acolhimento e palavras amigas. Era a pequenina Bethânia de nossos tempos.

Depois da imaginação e saudade dar um tempo a realidade fomos nos aproximando da porta da sala. Na sala “Seu Juca” com uma latinha na mão foi se levantando e nos comprimentando com seu sorriso acolhedor. (Caraça ele não mudou nada) No sofá com a menininha que nos atendera estava Daniel, um pouco mais gordo mas impossível não reconhecer nos cumprimentou e voltou a prosear com a filha (O papo era de como ele dançava muito Axé quando ainda era novo). Perguntei por Aline. “Seu Juca” disse que estava dando aulas de reforço de matemática a uma jovenzinha que morava perto dali e que estava de recuperação.

Conversa vai, conversa vem e “Seu Juca” mais Daniel foram até o portão ver um carro que chegava para manutenção (a oficina ainda continuava). Pediram licença e me deixaram sozinho na sala dizendo que D. Sonia já vinha pois estava no quarto. Não me importei e com minha família aguardávamos na sala.

Não tardou e escutei um barulho de porta se abrindo lenta e solenemente. Chinelos se arrastavam pelo chão vagarosamente. Supus ser nossa “velha” Dona Sonia quando me surpreendi com uma senhora gorda que mal conseguia se mover e parar em pé, seus cabelos eram como neve de tão brancos, o rosto...(tadinha!!!), sem comentários. Meu Deus!!!, quem é esta senhora que nunca vi por aqui???? Muito sem graça abanei a mão e disse:

_Boa tarde!

O silencio imperava. E repeti mais umas duas vezes minha saudação no que só via a senhora me olhar ternamente com um leve sorriso estampado no rosto.

Como percebia que ela não me ouvia saudei-a com a voz mais alta e em seguida fui comentando: _ Viemos visitar Dona Sonia, ela está aí no quarto???

_Vai a merda Gleisson, num ta me reconhecendo?

_ Dona Sonia??!!! Ë a Senhora?

_ Claro!!! Duvida???

_Uai! Cadê aquela Senhora atlética que fazia caminhadas todos os dias com o Flavio Cappa? Não to acreditando... Mas tem um teste.

_Teste?, que teste?

_Um!!! Intão fala o nome do Tiaozinho pra mim ver se é a Senhora.

_ Pra que isso menino?

_Por que só assim descubro se a senhora é a senhora mesmo

Depois de tanto insistir a cabei convencendo minha idosa amiga a pronuncia o nome do Tiãozinho porque só ela poderia pronunciar o “TI” e o “ÃO” de um jeito que só ela pronuncia...

_ SE – BAS – TI - ÃO...

Brincadeira Dona Sonia a senhora num vai ficar velha e feia...

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Dona Sonia e família...

Grandes saudades do tempo que vos ocupava.

Saudades dos papos sem compromisso a sombra de vossa varanda

Das piadas e gargalhadas saudáveis regadas com café e quitandas “Sonianianas”

Abraços, que Deus abençoe a todos e que em breve nos reencontremos...

Gleisson

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 13/04/2010
Reeditado em 16/01/2022
Código do texto: T2194843
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