"O GUARDA-COSTAS!"

LUIS ANTONIO era seu nome, o guarda-costas, daquela menina sapeca, um ano e oito meses o separavam, apenas isso, alguns meses e dias a mais, ele o mais velho.

Estavam sempre juntos, lado a lado, em tudo, desde pequeninos, onde um estava ah! encontrava-se o outro nas brincadeiras da rua, até no esconde-esconde davam sempre um jeito para ficarem por perto.

Seu pai todos os sábados ia ao barbeiro, num desses dias levou Luis para cortar o cabelo também e junto claro Aninha, esse é o nome da irmã protegida. Após o pai fazer a barba e acertar o cabelo, foi à vez do irmão a sentar na cadeira e assim se fez. Quando o pai se preparava para sair ela mais que depressa sentou na cadeira pedindo que cortasse também seus cabelos. O pai pediu que descesse, mas que nada, não saia de lá por nada. Tentando tirar Aninha da cadeira o pai acabou por desistir, porque foi um berreiro só, ninguém conseguia fazer com que ela descesse de lá, o irmão só ria.

Não teve outro jeito, cortou o cabelo e mais, queria igual ao do irmão, curtinho.

Seus cabelos eram longos, abaixo dos ombros, o barbeiro não sabia como fazer, pois era barbeiro, e nunca havia cortado cabelo de moças ainda mais de uma menina. O pai ficou com receio e pediu que cortasse não tão curto e assim foi.

Ficou uma graça, franjinha, mas curtinho atrás, parecia mesmo uma moleca, como era, ah! isso ela era.

Ao chegarem a casa, a mãe quase teve um enfarte, gostava dos cabelos da filha, e o pai não teve outro jeito de tentar explicar a situação, narrou o acontecido.

Parece que foi hoje.

-Mas Zico!- apelido do pai – nem terminou a frase e ele respondeu.

-Nenê – apelido da mãe – ela sentou na cadeira, abriu um berreiro e não teve quem a tirasse de lá.

Sem resposta, nem tinha mais o que discutir o mal ou o bem, pra Aninha claro, já estava feito, mas nada a fazer.

Ela usava shorts e bota somente, como o irmão, onde um estava, o outro estava também, sempre juntos.

Na adolescência, primeiro namoradinho da irmã, fazia parte da turminha e o irmão ao descobrir que seu namorado estava com ela por nada, fez desmanchar. Aninha ficou brava com ele, mas depois do irmão ter relatado o porquê ela aceitou e agradeceu.

Agora adultos cada um tomou seu rumo. Luiz saiu de casa, casou lindo no seu terno branco, com uma rosa lilás na lapela, cor do vestido da noiva.

Ciúmes ela não tinha, pois sabia dos sentimentos sinceros da cunhada.

Teve filhos, três homens, como Aninha três também, mas com uma diferença teve uma menina. Dos três filhos dele dois tinham problemas de saúde.

Com o tempo a irmã foi morar há uma quadra da casa do irmão. Mas ela trabalhava e pouco se viam, mas o guarda-costas, sempre dava um jeito de passar por lá e ver as crianças como estavam.

Um dia, a noitinha, Luis foi à casa da irmã e lá desabafou e chorou muito, e disse:

-Ana estou perdendo meus filhos, estão indo embora aos poucos e não posso fazer nada por eles.

Ela só pode abraçar e chorar junto.

Doença essa que até hoje não se tem cura.

Filhos inteligentes, boníssimos, alegres apesar de tudo.

E assim foi uma vida de dedicação, trabalhador, amoroso, mas mesmo assim ainda tinha tempo para se preocupar com a irmã e com os seus, agora viúva.

Mas no casamento ele não foi, ah! Isso não, ver a irmã casar!

Achava que ela merecia uma pessoa melhor, mas como melhor, com mais posse? Perguntava, mas nunca soube explicar.

Dia das mães do ano passado, se encontraram, ela foi visitar, o encontro foi inesquecível, se abraçaram muito, se beijaram, se olharam e ao mesmo tempo disse: Eu te amo muito! E choraram. Despedida?

Em outubro do mesmo ano, dois dias antes de seu aniversário Aninha recebeu um telefonema.

E assim, já não mais juntos nessa vida, o guarda-costas, agora é seu anjo de guarda, juntos sempre e para sempre!

(Dedicado ao meu irmão Luis Antonio o qual nunca esqueci e nunca vou esquecer, e que sempre soube do meu grande amor, que Deus ilumine sempre o teu caminho)

(Obrigada Flávia Côrtes, poeta do recanto, pelas lembranças terem florido ao ler seus poemas)

ARACHIN
Enviado por ARACHIN em 21/05/2010
Reeditado em 22/05/2010
Código do texto: T2270505
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