Ao meu avô

Em 04/06/2010

Meu avô,

Aonde o senhor estiver, escute estas palavras e que eu tenha sabedoria no que escrevo.

Ossiam, quando me vem à cabeça abstrações como amizade, perseverança, força, respeito, humildade, honestidade e, acima de tudo, caráter, é o senhor que as concretiza. És um exemplo de homem a se seguir. E eu poderia ser suspeito para falar, já que sou seu neto. Mas “vô”, é apenas a realidade.

Tudo isto que te falo, há muito tempo eu já pensava. No entanto, foi com a sua partida que vi reforçada a minha crença. Pude ter a honra de presenciar de fato, através das pessoas que foram te homenagear, o exemplo que és. O discurso que fizeram em teu velório sobre tuas qualidades, ratifica o que o senhor é. Um homem que ajudou a muitos. E além de tudo, é um exemplo de humildade, porque nestes anos que convivi com o senhor, nunca vi se vangloriar disto.

Somos tantos que cresceram, seja afetivamente ou profissionalmente, lá estando a sua mão e isto vai ser eterno. E disto tudo, meu avô, eu só tenho do que me orgulhar. Porque és íntegro e honesto. E não precisou nunca chegar a nós e dizer para sermos isto ou aquilo na vida. Entretanto, aqueles que souberam te observar, puderam entender o que passaste pelas tuas atitudes.

Outro símbolo que demonstra as tuas virtudes é a sua casa. Um lar que o senhor construiu junto a vovó. E isto reforça a união que transmitiste. Pois o lar de vocês dois sempre foi o lar de todos. Sem excessão, o senhor acolheu a todos nós. Todos, que somos filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, genros, noras e amigos. É muito difícil descrever em palavras. Eu peço a Deus para que me dê as letras certas de realmente demonstrar em poucas linhas o que o Ossiam é.

Eu e meus irmãos vivenciamos em exemplo, não em discursos, aquilo que melhor te é simbólico. O amparo. De tudo, meu avô, que posso lembrar do senhor, é o amparo e a proteção que tiveste com todos nós. Nunca nos deixando faltar nada. E o principal, que é o que me faz falta na forma física, são as palavras de tanto cuidado que o senhor tem comigo. As pequenas coisas. São estes detalhes da convivência que nos marcam. E que agora vão ficar em um lugar muito especial, que é dentro do nosso coração.

Com muito orgulho e satisfação eu falo que ele está vivo. Porque um homem, quando deixa seus filhos, são a continuidade dele. E todos nós que aqui estamos presentes: familiares – somos parte do meu avô. Em cada um de nós, irão sobreviver as qualidades que ele tem. Cada um de nós, ao procurarmos bem, lá no fundo de nós, veremos que somos um galho da árvore Ossiam Corrêa de Almeida. Um rochedo. Um homem que foi construído com o amor de Maria de Lourdes Corrêa de Almeida, a mulher que ele ama e o grande amor da vida dele.

E uma grande lição que ele deixa a todos nós que aqui estamos, é que todos podemos suportar. Todos podemos superar. Todos podemos nos levantar. Porque aos 87 anos, foi uma queda que desencadeou a vida eterna do meu avô. Mas não foi a queda que o derrubou. Porque ele se levantou! Ele caiu e não ficou prostrado ao chão. Isso não! Ele se levantou! E quem se atentar aos mínimos detalhes, percebe que ele tem muita força. Pois com toda a carga do tempo em suas costas, ele não desistiu de viver.

O grande coração do Ossiam parou por cinco minutos no hospital. Mas ali, naquele momento, ele mostrou a todos nós quanta vontade de viver ele tem. Ele não fraquejou. Pelo contrário, preparou a todos nós para o dia da sua verdadeira partida. Ele não quis morrer. Ele nunca quis. E este exemplo eu vou levar para sempre em minha vida. Porque quantas não são as dificuldades que passamos, as dores que temos e quantas vezes não nos vemos como se não tivéssemos mais forças para superar nossos obstáculos.

Ele provou que é possível. Porque não foi meu avô que quis ir. Pelo contrário. Foi Deus que quis o filho Dele, Ossiam, estivesse ao Seu lado. E a vontade divina não questionamos. Não nos revoltamos. Difícil é para todos nós aceitar. Isto é fato. Mas do fundo do meu coração, quero dizer que para todos nós que aqui estamos e sentimos este pesar, que ele vive. Que ele continua vivo. Ele continua vivo nos traços físicos que deixou nos filhos, netos, sobrinhos, bisnetos. No temperamento que nós temos. E principalmente nos exemplos. Quanto mais o tempo passar, mais vamos lembrar dos ensinamentos que ele deixou através dos gestos. Isto é o tempo.

O meu avô vai continuar protegendo e amparando a todos nós. E eu quero deixar registrado que ele ama a todos nós. Porque da última vez que falei com ele, assim ele disse: Eu amo todos vocês!

A dor que todos nós estamos sentindo neste momento, todo este sofrimento, é apenas um reflexo da saudade que ele deixa em todos nós. Mas que não nos deixemos cegar pela dor. Desejo que todos nós tenhamos aprendido a lição de força de vontade de viver. Acredito que até no final da sua existência física, mais um ensinamento ele nos dá. Que se deve ter coragem e perseverança para viver. Ele tem.

Toda a tristeza, desemparo e medo que temos. Todas as angústias. Tudo é natural. Mas quando nos voltarmos, em primeiro lugar a Deus, saberemos superar todas estas dores. E pensando também no quanto o vovô quis viver.

Estamos apenas passando por estas experiências. Ossiam é sábio. Tudo o que ele viveu, ensinou-o todas estas lições. Tudo o que passou, desde quando perdeu o pai – muito novo – depois a mãe, aos poucos os irmãos, perdeu um filho, tio Fernando, mas se manteve em pé. Quem vai dizer que isso não é força?

Peço a todos os meus familiares e aos que aqui estão presentes que sigam esta força do vovô. Porque é o começo das nossas vidas. Ainda temos muito o que viver. Até o dia que nos encontrarmos novamente com ele. Que a nossa passagem pela vida não seja apenas um passeio.

Eu recordo que da data do seu falecimento, choveu o dia inteiro. E estes dias, ao me ver chorar, a Vandinha, filha da Vanda, de apenas três anos, disse: “Não chora. O vovô não foi pro céu? Então, quando chover ele volta.” E como podemos explicar estas coisas? Ela deu um novo significado à chuva. Que todos nós aprendamos a dar um significado novo para as coisas. Que possamos ser felizes. Eu sei que é isso que ele quer.

Ossiam é um homem justo. No sentido do que sua vida representa. Chegou onde poucos chegaram. Foi presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. E de lá, com muito merecimento, foi de onde saiu pela última vez até o descanso eterno.

Excelentíssimo Senhor Desembargador Ossiam Corrêa de Almeida. Para nós, é o pai, o avô, o bisavô, o tio e o grande amigo. E para a minha “vó”, é: Ossiam, meu amor, meu marido, meu amigo, meu companheiro. O grande amor da minha vida.

E encerro dizendo que duas coisas eu nunca vou esquecer: dos seus belos olhos azuis e daquele vento que soprou no dia do último adeus, quando o Pai assim quis. Quando estes belos olhos azuis para sempre fisicamente se fecharam.

Mas... Que para todos nós que o amamos, para sempre continuarão abertos.

Fique com Deus, vô!

Eu te amo para sempre.

E se falo no presente, é porque o senhor sempre vai estar vivo em meu coração.

Do seu neto, Delano Almeida

Ossiam Corrêa de Almeida - *05/05/1923 †30/05/2010

Delano Almeida
Enviado por Delano Almeida em 06/06/2010
Reeditado em 26/01/2011
Código do texto: T2303582