Atriz (para T. B.)

Eram as mesmas mãos. Expressivas mãos. Os mesmo olhos, sobretudo. O nariz não era o mesmo. Ali em frente. Ela. Ela quem? Quase duas, três, não a mesma imagem exata. A mesma. Fascinante. Uma mesa branca –era branca? -. Cadeira e dois copos.

Eram as mesmas mãos. Expressivas, fluídas. Sobretudo a mesma voz. Melodiosa e. Tão intensa. Quantas mulheres cabem numa só?

Era aquela loucura, a mesma. Mas leve, jovem, apaixonada. Louca pelas paixões. Medindo a vida pelos amores. Mesmo os mais ordinários.

Era a mesma. Aquela fascinação. Dúbia. Detestada, amada. Temida. Forte demais, um jato de emoção. Explosão. Onde é que ela se perde? Deságua tanto que se leva junto. Corredeira abaixo, sem freios. Sem freios. Nem nas palavras. Mas tinha olhos ternos, carinhosos. Uma ponta de orgulho ferido latente. Um tom de Blanche Dubois. De uma fragilidade explosiva e corrosiva. De uma sensibilidade transbordante. De rompantes barulhentos. Da curiosidade ousada de menina. De adolescente que vê um garoto bonito passar. E se enche de vida.

Eram as mesmas mãos, gesticulando. Palavras naturais e caseiras destituindo meu medo. O pavor diante da figura. Da temida figura. Da detestável mulher. Da fascinante, sedutora, intrigante mulher.

Que pode ser tão grave vindo daqueles olhos? Da voz? De onde vem tanto alarido, tanto desafeto? Quem é ela? Quantas mulheres cabem numa só? Quantas personagens vivas, restantes? Quanto de loucura há em se emprestar pra tantas mulheres?

Eram as mesmas mãos, condutoras de emoção. Os mesmos olhos que aprisionam eternos apaixonados. A presença que se fez história. A história que se confunde à história. A magia de uma feiticeira hábil. Um encanto naturalmente representado.

Atriz.

Elle Henriques
Enviado por Elle Henriques em 03/07/2010
Código do texto: T2355180