PARA MEU PAI SILVEIRA

Oi pai,desculpe atrasar sua cartinha,mas o mês de agosto ainda é todo seu...Claro,não esqueci que vc o divide com a mamãe no dia 21...Eu estou de férias e ontem lembrei muito de vc; fui a uma sessão de shiatsu e reclamei o tempo todo ; lembrando que nestas horas eu poderia me auto-inflar e voltar a ser” obesa e invertebrada”...Poxa,ser “magricela” tem um monte de desvantagem; eu sempre achei;mas não vou negar que sair da idéia de usar cadeira de rodas obesa e voltar a ter saboneteiras no pescoço é bem bacana!

Se você me visse hoje ia dizer:-“Ei!Tomou vergonha na cara hein,perdeu peso”!Iniciaríamos um longo “papo” a lhe explicar que segundo estudos do inconsciente o ideal é empregar o verbo "emagrecer";porque tudo que “se perde pode ser achado” ;claro que partiríamos para uma conversa filosófica acerca da imagem plausível ditada pela moda e mídia...Colocaríamos em cheque o quanto a obesidade é mesmo vilã e vista como um “defeito físico”;lembraríamos a desumanidade do Universo Social medíocre,deseducado e desinformado que acredita que gente que veste extra-grande não tem auto-estima;esta nossa conversa acabaria em sua teoria de beleza feminina que sempre foi contra meus cabelos curtinhos;encerraríamos com minha tese acerca da dignidade de envelhecer usando tinta no cabelo e tentando disfarçar um pouco a idade com centímetros menores das cabeleiras ralas e espaçadas dos temidos cinqüenta anos!!

Elis Regina cantarolava “como nossos pais” e Renato Russo emendava dizendo que “que são crianças,...o que vamos ser quando crescer...” Confesso papai que vi em você um pai distante,mas amoroso;omisso e dissimulado, quando colocava todas as proibições nas costas da mamãe...Eu não suportava a idéia de perdoá-lo por ter jogado todas as minhas roupas curtas aos 13 anos;me senti vingada quando aprendi a usar decotes bem generosos; e você nunca notou!O que mais doeu foi achar a educação do mundo machista,retrógrada e antiquada com as mulheres e ter filhos homens para criar...Olha,Deus soube o que fez...Que barra aprender a compreender o Universo masculino através da ótica materna!Ufa,um aprendizado interminável cheio de surpresas e “perdões”...

Sinto-me "como a mamãe" vez ou outra,mas tenho um orgulho danado de ter muito de você,apesar de ter meu jeitão atropelado de ser...Quando eu descobri que você era humano e menos herói aprendi a ama-lo mais...Fui privilegiada por ter me tornado sua amiga...Lembra aquela conversa franca onde contei toda minha vida intima e você a sua?

Naquela magia vivemos em poucos dias a delicia da amizade.Penso que a educação as vezes seja hipócrita quando como pais passamos moral e “bons”costumes que não tivemos...E nós dois vivíamos num Universo onde a sinceridade nos dilacerava,mas a hipocrisia sucumbia...Eu aprendi a ser u´a mãe melhor assim;meus filhos sabem exatamente como eu sou,como eu fui e para onde quero que minha vida caminhe...Querido, tudo as claras,você me ensinou...e assim o é! Claro que as vezes dói mais,porque nem sempre a verdade nos é confortável,mas fazemos a nossa parte;sem cobrar que o mundo esteja preparado para brincar de poetizar brincando como você porque sua alma sempre foi e sempre será única,impar e eternamente “Silveiristica”...

Meu amor, rogo-lhe que jamais deixe de lembrar que tempo nem espaço o separará de mim, te amo.

Seu eterno “fim de cacho”,de alma obesa e “sem vergonha”,que nunca deixará um bom pedaço de chocolate abandonado; Nilminha

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Atenção:-Se você ainda não leu Borboletas;permita-se...e deixe seu recado;isto tudo chama-se Amor;obrigada pela leitura e comentário,Nilma.

11/08/10