A PARTIDA (morte ou vida)?

Hoje, 23 de agosto de 2010, faz um ano que “Ele” partiu sem olhar para trás, foi com um sorriso no rosto como a ver muito além que os seus olhos, antes, embaçados pela dor poderiam supor... Foi-se como a água a escorrer e escorregar devagarzinho...devagarzinho...até cair na imensidão do mar...mar de estrelas reluzentes.

Minutos antes, queria ficar, não por si, mas pelos que estavam à sua volta. Filhos, mulher... Ah!!! Pela mulher amada e querida poderia suportar mais um pouco aquela dor lacerante, mas já o fizera por longos seis anos, disfarçando muitas vezes, colocando o seu melhor sorriso para não vê-la triste e impotente, só que as gotas de suor que brotavam em sua fronte o denunciavam, fazer os seus felizes valia cada esforço, mesmo o rasgo na carne.

As filhas pediam a Deus o alívio para as suas dores, a esposa, que ele fosse curado, e, desculpem-me se estou sendo precipitada, na ordem de precedência, os pedidos da esposa eram ouvidos em primeira mão, afinal, havia quase 50 anos de vida em comum, de cumplicidade, amor e amizade, Deus cedia a todos aqueles apelos da esposa.

Mas na semana que precedera à partida do André, a sua Beth sem mesmo saber porque, começou a orar de forma diferente...Talvez por ver aquele homem tão forte, senhor de si, agora, usando fraldas, dependendo de outros para se locomover, sem vontade de abraçar, encolhido sobre o leito, muitas vezes de olhos fechados, aparentando dormir, mesmo acordado. Seu companheiro sofria e ela sabia que precisava ser forte, a hora da "viagem" estava chegando, era preciso se despedir.

É verdade que nas despedidas todos sofremos. Muitos fogem desse momento, preferem sair antes dos abraços e beijos, das palavras doces ou não. Os que ficam parecem sofrer mais, os que vão, logo se entretem com as novidades e sofrem menos, mas são suposições minhas, afinal, fui uma das que ficou, ficou sem o pai terrestre.

Quero abster-me no momento de falar sobre a minha saudade, meu foco é a esposa, minha mãe que às vésperas da ida de meu pai, estava orando como de costume, e, num momento de muita comoção pediu à Deus a libertação do seu marido, pediu que Deus aliviasse as suas dores e o tomasse nos braços, em outras palavras, ela o devolveu para casa do Pai.

Ele estava sentindo dores, o pastor da Igreja que freqüentavam o colocou nos braços como a carregar uma ovelha e o levou para o Hospital, Beth ficou em casa, andando de um lado para outro, não queria ir junto, sentia que o momento de dizer ADEUS chegara. O que falar? Ela não sabia, só que no seu coração não tinha mais dúvidas, era chegada a hora que nunca quis vivenciar.

Nenhuma novela, filme, peça teatral, ou qualquer encenação retrata fielmente o que se passa no coração de quem vive esses momentos tão marcantes.

Depois de muito chorar, ela seguiu em outro carro para o hospital, levou consigo o rádio de pilhas que ele, mesmo sofrendo,pediu, pois queria ouvir o jogo do seu time preferido.

Quando lá chegou, conversou com ele, ratificou o seu amor, ele também confirmou o que sempre sentiu, amava aquela mulher muito mais que a sua vida, lágrimas escorriam pelo seu rostos mas tinha que ir, a luz que via através dos olhos opacos o chamava. Sua missão por aqui chegara ao fim, e, ela ficaria bem, os filhos a amavam muito, seriam seu suporte de agora em diante.

Ainda ouviu um pouco de futebol, mas depois de certo tempo, não quis mais, pediu que desligassem o rádio, precisava dormir, mas Beth queria conversar, podia ouvir a sua voz lá longe...Então, respondia ao que ela perguntava, como a sonhar.

Ele passou a ver outro cenário, mesmo com os olhos fechados, eram dois mundos diferentes, esse, o que já conhecia há 82 anos, o outro, o outro era lindo demais! Queria viajar para lá, anelava o silêncio que estava do outro lado do lago de águas calmas, com aquela cachoeira que reluzia ao fundo, via e admirava o céu de um azul anil jamais sonhado. E o sorriso daqueles seres angelicais? Era para ele que sorriam... Olhava ainda as crianças brincando ao lado do homem de branco, todos cantavam músicas de paz, ele pensou: Como resistir a esse convite irrecusável?. Ele pode então olhar nos olhos daquele que o fez, Jesus, Deus Trino, e sentiu vontade de dormir em seus braços, não queria mais ficar por aqui, era a hora de dizer adeus, combatera o bom combate, guardara a fé, iria agora ao encontro do seu Pai.

Mas, Beth falava consigo, chamava-o, e, entre as perguntas que fazia, perguntou: - André, onde estás agora? Ele olhou além do Rio e viu os céus abertos... Raios de sol inundando tudo, anjos por todos os lados, então falou – No céu... Eu estou no céu. Com essas palavras, mudou de casa, atravessou o lago calmo e foi descansar nos braços do seu Criador, as coisas que ficaram para trás foram esquecidas no momento que atravessou a linha de separação daqui para a nova cidade.

Assim ele se foi, sem dor, sem gritos ou revolta, apenas viajou seguro, sabia para onde estava indo, seu sorriso no rosto dizia tudo, ele foi feliz.

Hoje, quero homenageá-lo pela pessoa que representa em nossas vidas, mamãe está aqui comigo, se restabelecendo de uma doença, logo voltará para a sua cidade, se despedirá de mim, que ficarei no Rio de Janeiro sem parentes por perto, ela retornará para Altamira-Pará, reencontrará os amigos, parentes e filhos que deixou por lá, e eu, ficarei na saudade por esses meses que a tive ao meu lado, mas com certeza, também estarei feliz por saber que não a perdi, pelo contrário, a ganhei de presente por uns tempos, afinal, nada é nosso. Filhos, pais, amigos, todos são emprestados, são anjos colocados por Deus em nossas vidas para sermos mais gratos pelo dom da vida.

Portanto, aos que ainda tem pais vivos, tratem-nos com amor e atenção, porque, a qualquer momento, chegará a hora da “viagem” e, mesmo em meio a apelos, eles ou nós iremos, “estar com Deus é infinitamente melhor”, como já dizia o apóstolo Paulo.

Mãe, irmãs, irmão.... Força!!!!!!! Papai agora está se deliciando sendo filho, deitado nos braços do seu Criador. Eu creio.

§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§§

Abaixo, textos extraídos da Bíblia Sagrada, para alegria dos que crêem.

"E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" ( II Cor 5:17)

“Quanto a mim, a hora já chegou de eu ser sacrificado, e já é tempo de deixar esta vida. Fiz o melhor que pude na corrida, cheguei até o fim, conservei a fé. E agora está me esperando o prêmio da vitória, que é dado para quem vive uma vida correta, o prêmio que o Senhor, o justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que esperam, com amor, a sua vinda.

“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé”. (2 Timóteo 4:7)

“E O PÓ VOLTE À TERRA, COMO O ERA, E O ESPÍRITO VOLTE A DEUS, QUE O DEU” (Eclesiastes 12:7)