Homenagem a Palmirinha

Foi uma surpresa. Há dois anos – apenas dois anos – com o controle remoto na mão, passeei pelos canais da televisão. Tive uma alegria imensa ao me deparar com aquela senhorinha na televisão que – em muitas coisas – me lembrava duas pessoas: a minha avó e a minha sogra. Descobri: era a Palmirinha Onofre. Anos atrás a minha sogra falava dela, mas eu não tinha a mínima idéia de quem se tratava. Até porque jamais eu tive interesse por programas de culinária e muito menos tempo disponível para isso. Achava o máximo em termos de alienação e de atraso de vida.

Mas aí eu descobri a Palmirinha, dando um show de carinho para as suas amiguinhas, simpatia, bom humor e sempre grata à vida e capaz de enfrentar com maestria os conflitos da existência.

Os detalhes do programa eram extraordinários! Conversava com os seus colaboradores, agradecia muito, fazia uma dancinha com as meninas do marketing ao anunciar qualquer produto e sempre tinha nos lábios um doce sorriso de sabedoria. Coisas do eterno!

Quando eu tinha algum compromisso às tardes, a primeira coisa que eu pensava era: “vou perder o programa hoje. Cacilda!”

Pelo pouco que sei, a Palmirinha sofreu muito. Criou as filhas sozinha num tempo em que ser separada era muito feio e reprovável. E todas as filhas conseguiram estudar graças aos dias e intermináveis noites em pé, ao lado do fogão. Fez de tudo, até lavou carros e engraxou sapatos para sobreviver com dignidade.

Suas mãozinhas são por demais enrugadas. Um dia a minha mãe me disse que as mãozinhas da Palmirinha se pareciam com as da minha bisavó, de tanto trabalhar. A minha bisa veio da Itália no final do século XIX e deve sim ter algumas semelhanças com a nossa culinarista, pois foi uma lutadora sem trégua, fervorosa e sem nenhuma preguiça.

E a Palmirinha tomava cuidado com tudo e com todos e sabia dos gostos dos seus colegas de emissora e mandava um pedaço dos seus quitutes para os colegas. O Roque, por exemplo, gostava de mais pimenta... E deixava uma raspinha de doce no fundo da panela para o Milagres se regalar... Essa atitude era maravilhosa porque espontânea , verdadeira e profunda. Amorosa até a última gota! Que beleza de alma! Que candura! Muitas vezes eu pensei eu abraçá-la, se eu pudesse.

Terminava a apresentação da receita, invariavelmente vinha o seu “espero que vocês gostaram”.

Gostamos sim, Palmirinha, e muito. Do seu jeito, da sua fala, do seu Português nem sempre bem construído, da sua amizade, sorriso, presença, do seu amor a Deus, do respeito ao próximo, das suas mensagens carinhosas para suas amiguinhas, dos abraços que dava naquele bonequinho que lhe ajudava a transmitir as receitas. Muito obrigada, Palmirinha, por não ter vergonha de mostrar uma alma tão doce e simples, de olhar tão sincero e profundo, pela sua disponibilidade e superação. Como é lindo o seu jeito de amar a vida!

Palmirinha, até amanhã se Deus quiser e Ele vai querer...

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 12/09/2010
Reeditado em 13/09/2010
Código do texto: T2494196