A Dionísio Teles (in memorian)
Pois é meu amigo, faz hoje quatro dias
Que ficamos órfãos do seu convívio
Enquanto para ti descortina-se o Hades
Continuamos neste orbe de martírio
Por uma fração de bilionésimos de segundos,
Ante a eternidade, pude estar contigo
Mas tal foi a intensidade desse convívio
Que marcou para sempre o prazer de dialogar contigo
Por isso, em tua honra, ergo a Baco um brinde
Já que ele tem o seu nome de batismo
Ouça o que lhe digo meu amigo
É hora de desapegar-se de tudo que à matéria - seu corpo -,
é abrangido
Sensações como dor e prazer; doenças e conflitos
Quente, morno ou frio; tesão, calafrio; ego, ódio, ira, desatino
Estais livres, és agora tão somente espírito
Terás que reaprender a locomover-se no teu antigo ninho
Abandonar a fome e a sede de todos os vícios
De nada mais necessitas para estar vivo
Vivo também estais, e estarás na memória de seus parentes e amigos
Aquilo a que chamamos Registro Akáshico
É a maior biblioteca virtual de todo o mundo
Nela podes agora adentrar para saber a respeito de tudo
Não somente desde sua primeira encarnação,
Como também, adquirir e desfrutar todo o conhecimento para o qual,
Encarnados, na maior parte do tempo,
nos fazemos cegos, surdos e mudos
Peço-te ainda, meu querido amigo
Não sejas demasiado rigoroso para consigo
Tua consciência está agora liberta de todo empecilho
Pode aparentemente tornar-se o mais rigoroso de todos os juízes
Tem calma meu amigo
Lembre-se que o perdão deve ser sempre primeiro para contigo
Não esqueças que aqui, eras um homem, como qualquer outro,
Sujeito às vicissitudes do livre-arbítrio
Não queiras desde já concertar algo que julgues
Não ter sido bem construído
Isso pode atrapalhar a evolução dos que aqui ficaram
Como também do seu próprio espírito
É preciso antes, da sua atual condição, ter pleno domínio
Vamos todos permutar orações confiando a Deus todos os desígnios
Verás afinal que não há nada perdoar
Há apenas o que ser compreendido
Confia no Pai que nos criou e liberta-se Dionísio
Não tenhas pressa em reencarnar, e quando o fizeres,
Que o faças à luz da sabedoria
Para que possas melhor auxiliar os irmãos que aqui vagam em agonia
Cultiva o saber de tudo o que se refere à vida
Potencializa tua luz reconhecendo ser de Deus uma partícula
Aprende tudo do amor e sentirás um prazer sem medida
Pois já não tens a carne que a isso impossibilita
Desiderato é que permaneçamos em sintonia
Vê amigo, em Fédon, diz Platão:
- A morte é a libertação do pensamento
Dele agora vais se utilizar para mover-se a qualquer tempo
Percorra tudo o que há, neste planeta e em todo o Universo
Assim se conscientizará que, com tudo o que há, és uno
E que no plano de Deus tudo está de acordo
Lembra-se velho amigo?
Quando em Salvador, de todos os que falávamos,
ou eu ou você os conhecíamos
E para nós dois se nos afigurou espantoso,
não termos antes nos conhecido
Na vida acaso não há, há talvez congruências em nosso destino
A Deus agradeço, por no Recanto e na vida,
ter sua presença compartido
Peço-lhe ainda que me perdoe Dionísio
A saudade e a dor, a inspiração tem-me obstruído
Gostaria mesmo de compor uma ode a você, bom amigo
Mas só posso nesse momento escrever o que sinto
Receba esse monólogo, em honra do teu ser
Da tua arte e da minha gratidão de poder chamá-lo AMIGO!
Um bravo, um viva, um brinde a você, Dionísio Teles
Luiz Carlos Moreira Cardoso
Londrina, 16 de novembro de 2010.