Feitos da mesma luz

“O escritor, por exemplo, sobre o que escreveria se não fosse curioso? Antes de derramar a tinta sobre o papel ele deve primeiro mergulhar na vida, embriagar-se de realidade (...) inquietar-se, querer saber, aprender, compreender e ler – ler a vida com olhos de uma criança que sabe tudo e quase nada”.

Era exatamente como me encontrava: curiosa por conhecer a intrigante pessoa na pele do escritor que havia produzido o trecho acima - trecho que teria me inspirado a ler toda a obra de meu amigo secreto, caso eu já não estivesse fazendo isso. E descobri muitas coisas interessantes dessa personalidade libertária, pacífica, espiritualizada, extremamente culta e de bem com a vida.

Paulistano, sãopaulino e descendente de imigrantes japoneses, dividiu-se na escolha de uma carreira, decidindo- se finalmente pela Matemática, “que tem a grande vantagem de ser nada e, por isso, estar presente em tudo”. Um cidadão do mundo com nome que, por permitir caracterizar tanto homens como mulheres, pode mesmo ser considerado um nome de anjo: um anjo “latino-euro-oriental, que conheceu o Paraguai de ônibus e nunca viajou de avião” - ao menos até outubro de 2003...

Seus ensaios são claros e elucidativos e suas resenhas são muito bem organizadas - didáticas, eu diria; aliás, o tema educação (e sua companheira, a liberdade) tem presença marcante em sua produção literária. Seus contos prendem a atenção (sendo que os de terror são arrepiantes), suas crônicas de humor são de fato divertidas e sua poesia, incluindo os hai-kais, é doce e lírica. Resumindo: é com extrema competência que seus textos são produzidos.

Mas, além de tudo isso, pincei aqui e ali alguns curiosos paralelos entre nossas vidas: pelos cinemas que frequenta, muito provavelmente mora na zona oeste da capital paulista, assim como eu; até pensou em cursar arquitetura, mas no fim das contas acabamos vizinhos de prédio no campus da USP – descontado o fato de eu ter entrado na faculdade quando ele estava saindo do útero de sua mãe; nossos antepassados imigrantes foram corresponsáveis pela riqueza paulista gerada pelo café e venceram a ponto de verem seus descendentes formados em uma universidade pública – usufruindo um pouquinho, assim, das heranças da riqueza cafeeira com a qual eles haviam contribuído; também tem furo na orelha, ainda que o dele tenha sido feito à revelia; e, para coroar, também gosta de Fernando Pessoa...

Aprendi muito com a leitura de seus textos escritos com uma perfeição matemática. Entendi que projetos não são necessariamente organizações complexas e de longo prazo, mas podem ser banais mini-realizações diárias; que a gratidão e a felicidade estão intimamente associadas; que a intuição pode ser considerada uma decisão rápida quando temos pouca ou nenhuma informação.

Mas algumas dúvidas me intrigaram: Qual é a medida da diagonal de um quadrado de lado 1? Fiz as contas e achei que fosse a raiz de 2, por favor me corrija... Porém, para as outras – Qual a probabilidade de acertar no bingo e não ganhar o prêmio? De onde viemos? Para onde vamos? – continuo sem a mais pálida ideia de resposta!

Francis Toyama, como você gosta de presentes e eu não estou com o dedão do pé fraturado, aqui está seu texto-presente de amigo secreto. Mas creia: ler sua produção e conhecê-lo melhor foi um presente de amigo secreto às avessas – a sorteada (ou seja, a que teve sorte) fui eu!

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "Amigo Oculto 2010"

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