QUASE MEIO SÉCULO DE VIDA
Não sou mais criança
Estou às portas de completar
Meio século de vida
Isso me assusta um pouco
Mas, não pelo tempo em si
Não o cronológico
É que, apesar de algumas limitações
Próprias do tempo
Outras herdadas através dos genes
Estou bem
Sinto-me muito bem
O espelho não é nenhum fantasma
Talvez o grande lance seja
Não olhar para trás
Ou a forma de olhar
E de ver
Depende também dos parâmetros
Que você escolhe
É claro, quando se é jovem
A pele é maravilhosa
A plástica impecável
Mas, que comparação é essa
Quando se é jovem
Não se tem história
Não se tem experiência
Se é como um livro inacabado
Um caderno no começo do ano letivo
Se bem que infelizmente
Há alunos que chegam ao final do ano letivo
Ainda com o caderno em branco
Mas, afinal
Voltemos ao foco
Eu estava nos meus afazares de rotina
De repente, veio-me um pensamento
Estou à beira de completar
Cinquenta anos
E pensei:
Estou bem, muito bem
Se meus seios caíram um pouco
E é claro que caíram
São os efeitos do tempo, da gravidade
Cumpriram o esperado
Um dia saciaram o prazer de um homem
Depois saciaram a fome de uma criança
Alimentaram a vida
Assim também o meu ventre
Primeiro o meu ventre
Agora um pouco flácido
Um dia conheci o prazer, me realizei como mulher
E meu ventre serviu de agasalho e proteção
Para a vida fecundada
Consagração do amor
As rugas e as imperfeições
Do meu rosto e do meu corpo
Contam por si só
As experiências que vivi e vivo
E ao longo da história
Vão completando as páginas em branco
Do livro da vida
Vida esta que é um
DOM.
Efigênia Saraiva.
11/01/2011.