D.Idalina

Dia 11 de junho de 2006

Não tive convivência com ela...

Uma só vez ela se serviu do meu trabalho de costureira,trazida pelo marido S.Antonio,até ao meu ap.Eles moram no 31 e eu no 53.

Desde esse tempo ,só nos falavamos no elevador,na entrada do prédio,ou na rua quando carinhosamente seu Antonio a levava para dar uma volta pelo quarteirão,obedecendo ordens médicas.

D.Idalina foi ficando doente de uma hora para outra.Sua doença a deixava cada dia mais fraca e impossibilitada de fazer qualquer coisa.

S.Antonio cuidava de tudo:compras,comida,arrumação da casa,enfim tudo que é preciso ser feito para sobreviver.Sua dedicação era incondicional.

Sempre muito educado,me dizia alguma coisa sobre a saúde da esposa quando perguntado.Suas explicações eram carregadas de esperança de melhora.

As vezes eu o achava triste e pensativo,com suas sacolas de compras ele entrava no prédio para mais um dia de luta contra a doença de D.Idalina.

Domingo ,quando fui buscar o jornal,vi no elevador o aviso do seu falecimento.D.Idalina descansou...Será mesmo?

D.Idalina sofria mas era extremamente amada pelo seu marido.Ele a confortava com seus cuidados e mimos.Os dois iam levando suas vidinhas muito conformados com tudo pois estavam ali,juntinhos.

Foi mesmo um alívio não vê-la tão magrinha,tão frágil,ultimamente sem condição de andar,..mas e o seu Antonio?

No velório ele nos recebeu com força para agradecer a nossa presença.Sorria nervoso,incrédulo e assustado,pensando por certo como seria sua vida de agora em diante,sem ter mais aquela ocupação que lhe preenchia o tempo todo e o fazia uma pessoa útil.

Na cerimônia da cremação do corpo de sua mulher ,ele escolheu não participar.

Eu nunca tinha assistido uma cerimônia desta.O Memorial Necrópole Ecumênica,que temos aqui na cidade de Santos,é um monumento digno de se admirar.Tudo ali transpira paz.Os lóculos são padronizados e os corredores que dão vista para os jardins traz uma sensação de tranquilidade.

Os que ficam virados para rua ,vistos do alto,se visualiza a cidade com seus prédios e casas e ao longe ,os guindastes do porto.

Os velórios são climatizados ,possuem som ambiente ,mobiliário moderno e confortável.Tem ossário,cinerário,e as urnas escolhidas pelos parentes são verdadeiras obras de arte.

A sala que antecede o crematório é lindamente decorada.Parece até

parte de nossas casas

Ao entrar no crematório ,a impressão é de uma sala de teatro.

Poltronas forradas de vermelho que se destacam nos braços pretos .

Na frente vê-se um palco cujo apôio do caixão é móvel.

Músicas clássicas e orquestradas dão um toque de introspecçâo.

Ficamos absorvidos pela música que favoreceu o desabafo copioso do seu único filho que se debulhou em lágrimas ,amparado pelos amigos.

Vagarosamente o caixão vai descendo ao mesmo tempo que sobe uma cobertura côncava ,ficando no lugar do caixão.

Foi uma cerimônia linda ,não fosse trágica pela sua condição.

Chorei muito,emocionada com tudo...

SEu antonio tb não foi a missa de 7º dia.Soube pelo irmão Juca ,que ele não estava bem...Pudera,o que será que ele vai fazer agora?

O tempo sòmente o tempo o ajudará ver que a vida continua.

Nota:S.Antonio vive até hoje no seu cantinho.De vez em quando nos cruzamos no supermercado ou no elevador do nosso prédio.Deus o

amparou ,como a todos nós...

Daisy Zamari
Enviado por Daisy Zamari em 23/02/2011
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