Rondon, um descobridor do Brasil

"Um homem veio e do sertão nele entrou de corpo e alma.

Contemplou terras ignoradas e povos esquecidos".

Sim, Rondon foi um dos descobridores do Brasil. Não que ele estava na caravelas de Pedro Álvares Cabral, não. O Brasil já existia antes de 1500 e existirá depois. No entanto, vez ou outra alguém consegue apreender algo do Brasil que estava até então encoberto. Marechal Rondon foi uma dessas pessoas.

No começo do século XX, estávamos saindo da Belle Epoque. Pouco se sabia sobre o interior do Brasil, porque os olhos de todos estavam para a Europa. Estudos de sanitaristas como Belisário Pena, Miguel Couto, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, dentre muitos outros descobridores, revelaram um Brasil doente, popularizado na pena de Lobato.

Rondon continuou o processo de redescobrimento, ao desconstruir o índio criado pelo Romantismo e mostrar sua situação de penúria. Interessante é que Rondon tentou assimilar o indígena na sociedade brasileira sem querer acabar com sua cultura, ele queria conservar a identidade indígena e, ao mesmo tempo, estender á eles os direitos e deveres do cidadão.

A ligação de Rondon com o indígena está no sangue; era filho de terenos e bororos. O sobrenome Rondon veio do tio que o criou após a morte dos pais, ele o adotou anos mais tardes como forma de homenageá-lo. Se formou na Academia Militar da Praia Vermelha, tornou-se positivista e um grande entusiasta da Proclamação da República. Como grande conhecedor do interior brasileiro, principalmente do Mato Grosso, terra onde nasceu, foi escolhido para construir as linhas telegráficas pela selva. Então ele usou sua sabedoria, sua ética e sua influência para cumprir sua missão e ao mesmo tempo ajudar os povos indígenas.

Rondon e sua causa só ganharam notoriedade após a expedição do ex-presidente norte-americano Theodore Rooselvet pelos rios da Amazônia. A coroação de seus esforços veio com a fundação do Serviço de Proteção ao Índio em 1910. Na cruzada para conseguir mais recursos para seu projeto, até sua mulher, Francisca Xavier da Silva Rondon, esteve empenhada. Enquanto o marido cuidava das aldeias no interior, ela andava pelo ministério de viação e obras públicas na capital federal tentando convencer os políticos da importância do trabalho de seu marido.

A única parte do Estado que tinha contato com os índios era o Exército, através de Rondon, por isso, num primeiro momento, seu projeto era ajudá-los a se formar através da corporação. Depois com a Marcha para o Oeste veio a possibilidade de trazer toda uma infra-estrutura para seus amigos, como postos de saúde mais equipados, escolas e muito mais.

Rondon é o patrono da Funai, foi homenageado como nome para uma cidade no interior do Paraná, uma rodovia e um estado, Rondônia. Mas hoje Rondon e seu magnifíco trabalho estão perdidos num relativo esquecimento, o que é uma tragédia, pois essa ilustre figura de nossa História honra e muito nosso povo e nosso país.

(13 de julho de 2010)