Renda-Turca

Na hora em que ajeitava o paninho de crochê na mesa da sala de jantar, pensei: - "Será que estão pelo avesso?"

Não sou muito bom nisto. já dei muitas mancadas na minha falta de calma em acertar detalhes da casa. Mas, apesar da falta de paciência com estes pequenos detalhes domésticos, presto muita atenção aos detalhes da vida. Perco tempo pensando sobre pequenas frações de gestos, de palavras, de comportamentos: um rápido e delicado gesto, um rápido e delicado olhar, são, via de regra, eloquentes e elucidativos... Tenho, sim, apavorante horror às pessoas dissimuladas... Mas as pessoas gentis, naturalmente gentis, espalham alegria e felicidade... Talvez haja necessidade da adoção de um novo tipo de curriculum vitae, onde haja o exercício da gentileza com muito dever de casa.

Continuo tentando esticar o pano no centro da mesa: é uma renda-turca. Ajeito mais para a esquerda, olho de novo o avesso e falo com ela: -"Desculpe minha falta de jeito. O pano é muito bem feito, parece até que não tem avesso!"- Mas, se ela me ouviu, não disse nada. Não ouvi sua voz me ensinando o lado certo e o lado errado. Não ouvi nada.

Olhei para cada ponto daquele crochê que eu vi crescer em cada gesto e em meio a muita prosa. - "Que cor, você acha, Bernadete prefere?" - "Não importa a cor, não importa o modelo". -

O que tinha importância ali era o carinho, a delicadeza!

Olho de novo ao redor. Ela não está. Não haverá mais sua presença. Não escuto mais sua voz me chamando. Só aquele chamado chamado agudo dentro do coração.

Imaginem um jardim florido onde o vento fresco sopra constante. Imaginem um canto alegre e um sorriso largo. Uma felicidade ativa. Imaginem o entardecer suave da flor. O silêncio. Seremos agora, neste jardim, o orvalho em saudade.

Vivemos e compartilhamos momentos importantes. Bidi gerou meu pai. Fui criança em seu colo, dei-lhe minhas mãos e me deixei proteger com mimo. O tempo passa e o vento muda. E o silêncio retorna. E, como todas as pessoas gentis, foi-se embora de mansinho como que envolvida pelo manto da Senhora do Monte Líbano. Bidi levou no coração o amor que a consagrou e a paz conquistada.

Amor e Paz, mamãe!