Memórias sobre Marcoleta, o Despachante.

Fiquei sabendo hoje que o Marcoleta despachante faleceu neste ano. Não sei a data nem as causas de sua morte, recebi a mensagem via e.mail, e o amigo que me enviara fora lacônico em sua informação. Respondi o e.mail, com pesar, e solicitei maiores detalhes, talvez amanhã o receba.

Conheci Marcoleta nos tempos de faculdade. Ele, apesar de uns quinze anos a mais que eu, cursava um ano anterior, curso de direito, onde nos formamos devidamente.

Marcoleta morava no bojo da Liberdade, o Bairro, mas poder-se-ia dizer que vivia também os meandros da liberdade. Tinha olhos azuis, de um azul cor do mar, uma filha e morava com a mãe em um humilde apartamento, onde seu quarto ficava na sala, dividido por um biombo de madeira, do lado da janela. Fui lá uma vez, na mesma noite em que a seguir rodamos com seu velho Passat marrom pelos antros da Liberdade, parando vez por outra em bares e boates em que dizia serem seus point’s.

Marcoleta bebia e fumava muito. De vez enquanto dava uns tiros na cocaína, mas nada que fizesse com que sua vida se fosse tão cedo.

Tomamos muitos porres juntos naqueles loucos tempos de vacas-magras, e nunca o vi triste e cabisbaixo, sempre com um longo sorriso alvo nos lábios.

Lembro-me que por onde transitávamos com seu Passat as pessoas nos bares e casas de Streep iam acenando-lhe com alegria, gritando algo que à época não soube discernir ao certo o que se tratava.

Uma vez paramos em frente a uma dessas casas perniciosas, que possuía segurança engravatado na porta, luz de neon piscando, tudo negro na fachada e uma enorme porta dupla de madeira. Dava-se a impressão que o local era bem freqüentado, porém, quando o segurança nos permitiu entrar, notei que não haviam freqüentadores, era uma casa de “fachada” para a lavagem do dinheiro sujo oriundo obviamente de alguma atividade ilegal.

Marcoleta subiu para o segundo andar onde haviam algumas mesas de sinuca e encontrou um amigo que foi logo lhe jogando uma poção de farinha na mesa. Foi ali que vi que a vida de Marcoleta não era brincadeira não.

Espero que nesses mais de dez anos em que não mais o vi, tenha realizado ao menos parte de seus sonhos...

Savok Onaitsirk, 18.07.11.

*HOMENAGEM:

caro cristiano covas,apesar de não conhece-lo, me considero seu amigo porque tinhamos um grande amigo e irmão em comum, embora tenha nos deixado precocemente, MARCOLETA acumulava em seu coração alegria de viver, e o vazia muito bem, amigo de minha infancia, tinhamos uma boa relação, assim como você ja não o via a alguns anos porque vim morar em salvador- BA, fiquei muito triste por saber de sua "VIAGEM" atraves de sua homenagem postuma dedicada ao nosso grande amigo, mas ao mesmo tempo feliz por saber que assim como eu, você tambem tinha uma grande consideração e admiração por aquele ser humano maravilhoso que nos pregou uma enorme peça nos deixando sem dizer ADEUS ATÉ QUALQUER DIA AMIGOS..., forte abraço cristiano covas e muito obrigado pela narrativa, sobre nosso sempre MARCOLETA, que agora vai estar sorrindo e olhando tudo azul como seus lindos olhos, junto ao papai do CÉU. seu amigo dudu,da baixada do glicério (agoara salvador-ba.) salvador,21 de agosto de 2011

Para o texto: Memórias sobre Marcoleta, o Despachante. (T3103419)

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 18/07/2011
Reeditado em 23/08/2011
Código do texto: T3103419
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