DOCE INFÂNCIA
"Caí no poço. - Quem te tira? - Meu bem. - Seu bem é essa? - Não! - É essa? - Não! - É essa? - SIIIIMMMM!
- Pera, uva ou salada mista?"
Como é bom lembrar dos velhos e saudosos tempos de criança. Em meu tempo, embora não seja muito velho, ainda existia muitas brincadeiras, uma delas, era o tal do CAIR NO POÇO. Era fantástico.
Fantástico, hoje, não é o programa da rede PLIN PLIN, não. Fantástico mesmo é ter essas tenras e deliciosas recordações.
Fico a pensar nas crianças de hoje, o que terão no futuro para recordar? Ipod, MSN, Facebook etc. Bom, esperemos o futuro sem puxar suas engrenagens, que por natureza, já são, quase sempre, muito apressadas, quiçá quando quer nos levar dos melhores momentos.
Pois bem. Como tão bem pronunciou e deixou eternizado, Guimarães Rosa, em sua enigmática obra - Grande Sertão: Veredas - "... o importante na vida, não é a partida nem a chegada, mas sim, a travessia!" E como é bom atravessar mares quando a correnteza nos favorece, seja nas margens, seja no centro da correnteza dos rios, também denominado por Rosa como RIOBALDO, que não seria nem a margem da esquerda nem da direita, mas o centro do rio. E difícil é encontrar esse RIOBALDO. Outrora, ainda na obra de Rosa, Diadorim tentou encontrar o epicentro, mas ao fim foi em vão. Talvez uma das mensagens que se poderia retirar do livro é que viver às margens é muito melhor.
E viver recordando passagens boas, talvez seja eternizar-se no deleite do prazer de ter tido oportunidade de também estar de alguma forma em alguma das margens do rio.
E como é triste tentar seguir RIOBALDO, ou melhor, o centro do rio. Tudo tem que estar na medida exata. Tudo tem que ocorrer no momento certo, senão, olha a margem..., o perigo e a beleza está a sua frente, numa das margens. E o pior: fomos programados para sermos RIOBALDOS.
Drummond, em um de seus poemas também quis aproximar o eu-poético das margens indefinidas:
"... quando nasci, um anjo torto desses que vivem nas sombras disse: vai Carlos ser Gauche na vida..."
O eu-poético se aproximando ou imprimindo a Carlos uma das margens. Ora, Drummond, da mesma forma que Rosa, era apoixanado pelas margens.
Numa dessas margens talvez esteja o bem me quer? E o querer eterno de um bem que nunca é completo, sempre está a margem de ser e querer a completude, mas nunca o será. Está à margem.
E eu talvez seja um RIOBALDO, mas propenso a vivenciar a delícia eterna de estar ou querer estar as margens do rio.
Igualmente bendito num ditado Chinês: "... faça como os rios, que sempre desviam dos seus obstáculos para alcançarem seu objetivos..."
E quem primeiro se desvia, com certeza, são as margens. Deliciosamente e majestosamente vão se desviando, vão se alongando para outros pontos que não haja obstáculos, pois as margens não precisam ter resistências, elas são, por excelência, a harmonia da felicidade de ser o que são: MARGINAIS.