Um amigo Leal

Conheci o Chico Leal pelas "pautas da vida".

Essa mesma vida que hoje me faz recorda-lo com carinho e saudade. Muita saudade.

Na época, meados da década de 80, trabalhava eu em outros veículos de comunicação, enquanto ele já integrava a equipe de reportagem do Jornal "O Liberal".

Sempre que o encontrava, tinha no olhar uma sinceridade a toda prova. Nas palavras, a fidelidade de um verdadeiro amigo. E foi através dessa amizade, que desvendei um homem íntegro, de caráter retilíneo e atos dignos, virtudes que me faziam admira-lo, respeita-lo e querer-lhe com um intenso amor fraternal.

Por várias ocasiões conversamos sobre vida, profissão, e, quando então já convivíamos diariamente no mesmo ambiente de trabalho, não faltava assunto sobre nossas maiores paixões : os filhos. Minha filha de 4 anos, apaixonou-se por ele desde que o viu pela primeira vez: "Aquele tio de barba é muito legal. Gosto tanto de conversar com ele, mãe...", dizia-me a cada visita ao jornal.

Uma das coisas que mais gostava no Chico era o modo especial como tratava seus colegas. Todas as tardes, infalivelmente, era um dos poucos que fazia questão de cumprimentar a todos com bom humor, uma outra característica marcante nesse amigo insubstituível.

E quando sabia de algum amigo em dificuldades, não mantinha distância, auxiliava ainda que fosse com uma palavra de conforto, atitude raríssima nessa corrida louca e egoísta do dia a dia de uma redação.

Vi o Chico pela última vez no dia 20 de dezembro. Estávamos no pique de preparar matérias para adiantar o serviço do Natal. Era final de tarde e a disputa por um computador estava acirrada.

Chico estava trabalhando na mesa da Chefia de Reportagem. Sentei ao seu lado para checar as últimas informações para o agendão do feriado natalino pelo telefone. Naquele dia nosso colega Edivaldo Mendes tinha me escolhido para alvo de suas famosas “encarnações”. O Chico observava, risonho, enquanto digitava seu texto.

Depois, nossa conversa girou em torno das esperanças para o novo ano, as expectativas de dias melhores para todos, que, por um Desígnio Superior ele não pode contemplar. Digo Desígnio Superior, pois minha crença me ensinou que Deus, em Sua Infinita Sabedoria, traça planos para cada um de nós. E por mais que seja difícil de aceitar conviver com a realidade da ausência física desse amigo, é preciso buscar forças – relembrando a força interior que ele próprio sempre nos transmitia – para prosseguir.

Tenho certeza de que o Chico está bem. Nesse momento, deve estar noticiando, em algum lugar do céu, uma partida de futebol angelical.

E, como disse minha filha, após saber de sua partida, na pureza e sapiência ímpar das crianças: “Mãe, não chora. O tio Chico agora tá escrevendo pro Papai do Céu”.

* Homenagem ao meu querido amigo e colega de profissão, jornalista Chico Leal, falecido a 4 de janeiro de 1997, vítima de um AVC.

Áurea Gomes
Enviado por Áurea Gomes em 31/10/2011
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