Fernando

Ainda não sei bem o que escrever, mas sinto que preciso escrever alguma coisa. Há cerca de um mês falei com ele por um destes meios eletrônicos, não sei bem qual, mas sei que trocamos algumas informações básicas: nossa saúde, os filhos (netos também, no caso dele) e algumas outras coisas sobre nossas vidas. E me lembro de que prometi a ele que iria em breve a Santos para que ele revisse minha filha e conhecesse meu amado.

Despedimo-nos com a mesma cordialidade e carinho de sempre... ele me chamando de Fada Mia e mandando um beijo para minha gatinha, e eu desejando-lhe muita saúde, que se cuidasse e mandasse um beijo a todos – mãe, esposa e o fofo Enzo, que o encantava dia a dia e de quem tenho algumas fotos aqui no meu computador.

Quando recebi do nosso amigo Arnaldo, por e-mail, a notícia de seu estado de saúde, a primeira coisa que me veio à mente foi: é um engano. Aquele homem divertido, alegre, sempre de alto astral – apesar dos reveses pelos quais passou – não pode nos deixar. É como se se apagasse uma luz importante da nossa sala de viver e aí temos que continuar o trabalho na penumbra, até que os olhos se acostumem a ela.

Depois pensei: claro, é só mais uma brincadeira dele... entre tantas piadas, mais essa. Mas que piada de mau gosto, amigo querido. Você não tem nossa permissão para nos deixar assim, principalmente antes que eu pudesse voltar a Santos para revê-lo!

Fernando Brandi, que coisa... o dia ficou mais cinza, a vida mais triste, eu mais convencida de nunca deixar as coisas importantes para amanhã. Acho que preciso parar por aqui, pois não consigo mais enxergar o teclado. Tudo está embaçado... mas, à guisa de um mínimo conforto, ainda consigo lembrar um provérbio italiano que aprendi recentemente: “Non si è soli quando un‘altro ti ha lasciato; si è soli se qualcuno non è mai venuto”*.

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Não se é sozinho se alguém te deixou; se é sozinho se ninguém veio.