Breve homenagem aos autores que me criaram....

Dizem que nos comunicamos com o mundo desde o útero materno; então creio, foi aí que tudo começou.

Antes de prosseguirmos permitam-me acelerar o relógio do tempo por quase 50 anos. Em 2.011 li o primeiro livro no prelo e também o segundo. Nada programado; e por uma dessas incríveis coincidências, ambos os livros são uma espécie de diário de bordo de aventureiros em suas “loucas” viagens. O primeiro, escrito por Miragaia, amigo do meu pai que rodou milhares de quilômetros de moto . Era seu quarto ou quinto livro e se referia a uma viagem por toda a Ásia. O outro livro é de um grande amigo meu, Marcelo Lessa, uma pessoa que muito admiro e que resumiu as viagens que fez por mais de 80 Países.

Eu que sempre me imaginei como um viajante errante, mas acabei por criar raízes físicas viajando bem menos que minha vontade, confesso que li esses livros com uma pontinha de inveja, mas logo compreendi que minhas aventuras poderiam ser tão ricas como as deles, afinal viajei pelos infinitos caminhos da imaginação e do Conhecimento Universal

Voltando ao inicio. O que foi mesmo que começou ainda antes de dar meu primeiro suspiro terreno? O gosto pela leitura. Nasci em um lar onde se valoriza o conhecimento. Meus pais, a despeito de terem origem humilde, se criaram com uma alma sedenta de conhecimento e livros sempre dividiram espaço com nossos brinquedos e a leitura se confundia com nossas brincadeiras.

RUBEM ALVES diz que aquele que escreve transforma sua carne e seu sangue em palavras e quem as lê as transforma em sua própria carne e sangue. Ele traduziu assim um sentimento que tenho de parentesco, de comunhão mesmo com alguns autores que marcaram particularmente minha infância e adolescência.

Buscando em minha memoria, o primeiro autor que antropofagicamente li foi JOSE MAURO DE VASCONCELOS. “Coração de vidro” lançado em 1964 deve ter sido gestado comigo, seriamos gêmeos? Afinal nasci no final de 63. Eu o li ainda na década de 60 e suas estórias que demonstram a maldade do adulto que destroe tudo o que lhe foi caro na infância me comoveram muito. Outro livro que me marcou foi um clássico inglês: Oliver Twist pintado com todas as cruéis cores da realidade por CHARLES DICKENS. Eu ainda era uma criança e enxergava um mundo cheio do que, imaginava, injustiça. Creio que isso tocou de tal maneira meu coração que ficou marcado e sensibilizado para sempre com a miséria humana.

Então veio MONTEIRO LOBATO que me encantou com suas fabulosas estórias, MALBA TAHAN (heterônimo do professor Júlio César de Mello e Souza) que me fazia conhecer como a matematica pode ser maravilhosa e divertida; SAINT EXUPÉRY e a famosa frase de seu Pequeno Principe. “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Olha aí a comunhão descrita mais tarde por Rubem Alves....

Estávamos na década de 1970 e além de gibis me deliciava com livros de faroeste comprados na banca de jornal; Devo ter lido algumas dezenas de “pocket books” ambientados no velho oeste americano. Como era apenas passatempo, não me lembro de nada de tais livros. Mas lembro-me muito bem que nessa época ganhei meu primeiro AGATHA CHRISTIE: “O Caso dos Dez Negrinhos” que juntamente com “Assassinato no Expresso do Oriente” foram os que mais me marcaram. Eu tentava descobrir quem era o assassino antes do astuto Hercule Poirot. Esse duelo me fazia sentir importante e inteligente. Ainda nessa década fui apresentado aos jovens de Capitães da Areia do baiano JORGE AMADO, além é claro de Quincas Berro D’agua.

E veio (precocemente) a busca interior. Ainda na pré-adolescência me embriaguei de RICHARD BACH, que assim como Exupéry foi piloto e também como ele soube discorrer por estórias singelas os verdadeiros tesouros que nos alimentam a alma. Inicialmente, claro com sua insatisfeita e brilhante gaivota, Fernão Capelo, e depois com toda sua obra; Apareceram OG MANDINO e suas lições de perseverança e fé, e o amor descrito em toda a obra de LEO BUSCAGLIA; e lá estava eu, engordando minhas entranhas com um pouco de cada autor.

Claro que MACHADO DE ASSIS, CASTO ALVES, EÇA DE QUEIROZ, RAUL POMPEIA e todos os clássicos livros que nos enfiavam na escola foram lidos, nem todos no tempo certo. VINICIUS DE MORAIS era certo em qualquer tempo.

Mais tarde me foi apresentado JOSE SARAMAGOe sua peculiar forma de escrever, também conheci MILAN KUNDERA com sua Insustentável Leveza do Ser e ainda UMBERTO ECO , EZRA POUND; NIETSCHE e as brasileiras RAQUEL DE QUEIROZ E CLARICE LISPECTOR (apesar de Ucraniana)

Não pude deixar de ler o Príncipe de MAQUIAVEL ou a Divina Comedia de DANTE ALIGHIERI, passando pela Metamorfose de FRANZ KAFKA e nadando superficialmente pelas tragédias gregas com ÉSQUILO e SÓFOCLES.

Também me alimentei da forma eficiente e bela que EDUARDO BUENO nos mostra a Historia ou a forma serena e amorosa que RUBEM ALVES passeia pela alma humana.

Há um brasileiro pouco conhecido e com extensa obra que conheci me recuperando de uma cirurgia: HUBERTO RODHEN publicou mais de 60 livros sendo que quase a metade disso enquanto padre. Mais tarde fundou o Movimento Alvorada. Então conheci KARDEC, o mestre codificador que nos apresenta cinco livros de grande alcance moral , cientifico , filosófico e religioso. LEON DENIS, o consolidador de sua obra, ou melhor, da obra dos espíritos.

ANDRE LUIZ e sua serie que explica a vida no mundo invisível, JOANA DE ANGELIS que nos guia pelos meandros de nossa alma são grandiosos exemplos dos “autores espirituais” dos quais pude me alimentar na bibliografia espírita. Fazem coro com CONDE DE ROCHESTER, HUMBERTO DE CAMPOS, MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA e tantos outros. Mas é em EMMANUEL com seu poder de síntese e sua escrita eivada de luz e sabedoria e claro, nos Evangelhos de CRISTO, que pude sorver as letras e luzes, os parágrafos e os sentimentos em estórias de vida real tão bem exploradas para nossa ascensão.

E tantos outros autores esquecidos nessa coletânea (tenho certeza que alguns dos mais respeitáveis) que me deram um pouco de sua carne e de seu sangue, de seu conhecimento e de sua experiência para que eu pudesse me tornar quem sou hoje. Deram o pão da alma e a luz para o coração. Pelas paginas dos livros pude conhecer a biografia de Gandhi, Einstein ou Barão de Mauá; Pela leitura caminhei pelo caminho de Santiago de Compostela, e ouvi sermões junto ao Monte das Oliveiras; Através das paginas impressas rodei a famosa estrada 66 e juntamente com D. Alvar Nuñez CABEZA DE VACA naufraguei no século XVI e fugi de índios “comedores de gente”. Pelas letras caminhei junto ao mar da Galileia e sentei-me aos pés do Baobá conversando com o pequeno príncipe. Lendo, presenciei a iluminação de Buda e ouvi o sermão do cenáculo. Fiz as grandes viagens junto ao Paulo de Tarso pregando o Evangelho aos gentios. Agradeço cada um dos autores que fazem parte de minha alma, de cada centímetro percorrido por todas as estradas a que me deram acesso, por cada segundo dos séculos que pude vivenciar com eles. Obrigado por permitirem que eu tenha viajado mais que o Miragaia em sua moto, Percorrido mais do que os 80 países, Vivido mais de 2.000 anos....

Edson Montemor
Enviado por Edson Montemor em 15/11/2011
Reeditado em 15/06/2021
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