Pesadelo setembrino

O avião bateu

sempre amei o perigo

quem sabe talvez

eu vá ser aviador?

Houve uma época confusa

quando eu acreditava que o cifrão

governaria o Ocidente eternamente

e o Mundo acreditava nisso também

Até que todo o Ocidente

viu o terrivel acidente

o muito bem planejado acidente

e aqueles imensos dominós

tombando

Aqueles imensos dominós tombaram hoje

como se fossem dois minusculos prédios

desculpe-me se hoje tudo foge o sentido

a fumaça e o fogo andam a me confundir

Caiu o templo que fiz para os meus deuses

quedou o altar que ergui com tanto esforço

tudo aqui grita a minha própria inutilidade

O primeiro foi uma desgraça

o segundo, a morte num dejavu

o anjo da última Era Antropológica

Ele tinha quase que se esquecido

de mais algumas almas fadadas

a lama psíquica do esquecimento

e ao sepultamento imagético da Morte

Quando aquela alma esquelética

eterno gari de póstumas geografias

foi procura-los entre o calor infernal

não achou alguns deles e os agradeceu

por ter facilitado o seu árduo trabalho

Entre toda fumaça intoxicante no ar

e o Futuro em carissimos escombros

o resto da potência atual do Globo

haviam seres luminosos gemendo

ainda apegados ao prazer helenístico

que tem viciado as suas carnes

Entende-se os seus pontos de vista

algo que tem a audácia final

de cometer o drástico suicídio

com tamanha beleza cênica

é difícil de não se apegar

O avião caiu

sempre quis o perigo

estudarei bastante

para ser aviador

Quem dera fosse só

o meu túmulo ao invés

de toda esta gente ali..

* em homenagem respeitosa ao 11 de Setembro ...

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 05/01/2012
Código do texto: T3423217
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