MEU PAI

Aos poucos vai desaparecendo aquela silhueta

de um homem mediano, possuir de um comedimento

sem igual, correto em suas decisões, verdadeiro

gigante em defesa de seus ideais.

Faz muito tempo, ocorreu um fato que me deixou

indelevelmente marcado quando por exigências da

própria vida, desliguei-me de sua dependência

econômica por emancipação.

Ao despedir-me meu pai chorou, cujas lágrimas

continuam guardadas em um quadro pincelado

em minha memória, e ainda mais por ficar ali

patenteado a grande amizade que reinava entre nós.

Abraçamos-nos no início de um ano que já vai longe.

Três meses depois o destino revelou-me

que aquele abraço foi derradeiro, nunca mais pude abraçá-lo

e é exatamente isso que me dói.

Eu parti para um outro local, e ele para os

céus onde está bem melhor do que eu.

Havia entre nós uma amizade pacífica, pai

e filho existencialmente vivendo a ponto

de tornar-mos confessor um do outro para

falarmos de nossas fraquezas como seres humanos.

Poucos tiveram a felicidade de ter o pai que

tive, confidente, orientador reticencioso para

com os outros, de temperamento quieto mas

detentor de um profundo sentimento.

Estamos separados a quarenta anos da

vida terrena, sem poder conversar e nem abraçar-nos, mas

sou possuidor de um presente reconfortante e insuperável, de

saber que no baú de minhas recordações o amor

dele ocupa um lugar muito mais do que especial.

Wil
Enviado por Wil em 12/01/2012
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