SÃO PAULO MINHA DOR E MEU AMOR

Fazes aniversário hoje, 25 de janeiro e, por verdadeiro amor a ti, talvez eu me devesse deter apenas na enunciação dos desmandos de que és vítima todo o tempo, desmandos das autoridades, desmandos de boa parte do povo que te habita, povo vítima, por sua vez, da falta de Educação, da falta do sentimento de cidadania, desmandos pelos quais tu, São Paulo, pagas, na tua gente mais pobre, mas também nas tuas gentes das várias classes sociais, pagamentos mais dramáticos ainda do que ao longo do ano nestes tempos de chuvas, quando vem à tona o lixo acumulado no fundo dos teus rios, quando tantos perdem as suas já precaríssimas moradias, quando carros boiam e outros afundam sob o peso das águas (...); como dizia, talvez eu me devesse deter na enunciação desses e de outros tantos horrores que marcam a trajetória das tuas ruas, dos teus dias. Não, eu não quero deter minhas palavras em tais horrores.

Poderia, pelo contrário, deter-me na enunciação do que tens de belo, na amplidão da tua vida cultural, na beleza dos teus parques, na variedade dos povos que te habitam, na procura de caminhos de resgate para teus problemas pelos seres que verdadeiramente te amam (...); também em tal não me deterei. Escrevo apenas para te fazer uma muito singela declaração de amor:

Tu, minha São Paulo, és como tem sido em mim o amor pelos homens da minha vida, o amor pela poesia, o amor pela música, o amor por certos outros seres do meu destino (...): amor difícil, contraditório, miserável e opulento, muito de seu tempo a oscilar entre o inferno e o céu. Assim, já que partilhas da tônica quase sempre presente no meu modo de amar, não me resta outra escolha (até por coerência) senão continuar a amar-te também assim, com o prazer do meu corpo, com os sentimentos díspares do meu coração e da minha alma, exatamente como tenho amado e continuo amando quase todos os outros amores da minha vida.

• Claro que, se eu fosse um dos teus flagelados (nos múltiplos níveis), um dos teus milhares e milhares de flagelados, com certeza não me seria possível fazer, São Paulo, declaração, com tal teor, de amor a ti, e mais: ainda que te amasse, minha declaração se faria impraticável, pelo sofrimento, pelas perdas, pela dor. Ainda que te amasse, tu serias apenas e tão somente, a São Paulo da minha Dor.

No início da madrugada de 25 de janeiro de 2012.