Tributo à Mercedes (07-10-09)

É luto continental. Sim, “La negra” emocionou todo esse avassalado continente por mais de quatro décadas. Até mesmo no exílio, nos refúgios europeus, longe de sua amada Argentina, cada lágrima de Mercedes, refletia o amor incondicional à America Latina. Quanta dor e comoção nos causa agora, o eco límpido e vazio de tua ausência, cala todos os corações apaixonados que tocaste.

Que saudade deixará negrita. A mais perfeita expressão da voz dos pobres. Gracias a La vida. Obrigado por tua existência Mercedes, ela é imortal. Não nos cansaremos de ouvir teu grito como legítimo pranto daqueles que oraram a Deus por dias melhores. De Sán Miguel de Tucumán, do chaco argentino, para o mundo. Iniciaste a carreira na cidade de Mendoza e teus olhos se fecharam, tua voz se calou, na esplendorosa Buenos Aires. Que tuas cinzas sejam o sal da terra do teu povo que te ama e tua alma tenha o mais abençoado e merecido descanso e que continue encantando os mais angelicais seres dos céus com a melodia que o próprio senhor te concedeu.

Mercedes Sosa sabia reconhecer a verdadeira poesia, como poetisa que foi. Dizia que todo poeta é um profeta divino, e que os poetas fingem não saber aquilo que tão bem conhecem. Quanta genialidade, que duetos magníficos! La guitarra chorava ao dedilhar dos acordes de cada gesto teu.

Canción de lãs pequeñas cosas. Cada detalhe de tua vida foi intenso. Não se deixou abater por nada, ofereceste teu coração a todos que te amaram, como eu. Solo Le pido a Dios, a guerra não abalará tua memória, nós prometemos. O idioma espanhol foi testemunha de cada palavra. Inconsciente colectivo, é o câncer de nossa América, nossas parcas atitudes, que tanto proclamastes. Volver a los 17, era o que fazias melhor, pois tua voz jamais envelheceu e era o grito dos jovens que conduzia. Los ojos azules y las manos de mi madre, são os olhos de nossa vanguarda, daqueles que nos preconizaram, de tu rica madrecita, que temprano mostraste o caminho do trabalho. Zamba para no morir, és tuya Razón de Vivir, que importalizará tuas canções, com o sangue do entardecer… La tristecita, são as mães de tua pátria, que ao proferir teu puro Corazón Mirando Al Sur, sempre voltado a este cantinho sul do mundo que tanto nos encanta.

Foste fuerte Mercedita, e te aplaudimos pela bravura que resististe em tuas agruras.

Duerme negrita...duerme. Vá com Deus, serenamente...teu coração agora é dele...a liberdade chegou...

Em memória ao falecimento em 04/10/09

De uma das melhores cantoras que o mundo já ouviu, Mercedes Sosa.

escrito em P. Lacerda/MT/Brasil