MÃE, O ÓRGÃO MAIS VITAL
Logo de início, já quero dispensar a pieguice e o sentimentalismo. São elementos com os quais não aprecio trabalhar, já que eles me remetem a um mundo utópico. Eu quero uma maneira particular de homenagear o Dia das Mães.
Creio que o melhor é falar de minha própria experiência. Nasci filho único em agosto de 1988 e, condição mantida até o presente momento, tenho experimentado as mais variadas espécies de mimos e paparicos que um moleque poderia ter tido acesso. Na adolescência, o choque realístico começou a aparecer. A vida, afinal, não era daquele jeito. Pois a mesma mãe que adotou o desafio de construir um admirável mundo perfeito para seu rebento, de repente, viu-se às voltas com outra árdua missão. E que só foi cumprida com muita paciência e valentia. Enxergar a vida despida não é exatamente agradável para quem cresceu suspenso nos jardins da Babilônia. Mesmo assim, a brava progenitora não fugiu à luta.
Cada mãe é um espécime único. A minha, colegas, ao mesmo tempo em que não poupava esforços para me agradar, também não economizava no trato abrupto e às vezes violento. Cada acerto meu era acariciado com doces palavras e benesses; meus equívocos eram duramente repreendidos e achincalhados. No entanto, sempre estive ciente de que era parte integrante da cultura de minha mãe desde o momento que provei seu néctar lácteo. Nem certo nem errado, nem justo nem injusto. A melhor mãe que conhecemos é a nossa. Cada uma com suas idiossincrasias.
A presença e a atuação da minha mãe sempre foram icônicas para mim. Mesmo com seus mandos e desmandos, crises de humor e excessos, ela é minha principal referência de vida. O que ela diz ou faz tem um peso diferenciado; por mais que eu queira, jactantemente, me colocar como um ser já completo, suas observações vivem demovendo-me da ideia. E não há a alternativa de discussão. Não sou páreo para minha mãe. Recorrendo a uma abordagem rude, teimosa e irônica, talvez herdados da queridíssima, e por estes motivos sobrepujados pela dita-cuja, às vezes consigo vencer outras argumentações no grito. Mas minha mãe é invencível. Ela sempre me coloca em meu devido lugar.
Minha mãe tem poderes sobrenaturais. Ela sabe tudo. Seu cérebro identifica uma complexa trama em um mero tom de voz. Ela é capaz de ver uma mudança de temperamento em um átimo de segundo. Nada escapa de sua eficiente impetuosidade materna. Quando o assunto da pauta é o filho, seus olhos são tão clínicos quanto o de uma águia caçadora.
Se hoje eu estou apto a escrever essas linhas, devo muito aos seus corajosos métodos de criação! Não consigo imaginar meu funcionamento, ritmo e filosofia de vida sem eles. Seu papel foi tão decisivo na minha concepção individual que mesmo nas situações em que eu discordo dela, seus conselhos são tratados com muito cuidado e atenção. Ela pode me dizer algo tão descabido quanto o que qualquer outra pessoa diria; no entanto, a sua condição de mãe a faz gozar de plenos privilégios para fazer com que seu filho desça do frágil pedestal no qual se encontra para repensar a vida.
Nenhuma instituição é mais emblemática do que uma mãe.