Minha Avó

Minha avó me ensina, em cinco minutos de conversa risonha, mais do que eu aprenderia numa vida inteira.

Me ensina a esquecer dos problemas quando esquece dos seus até sem querer.

Quando me chama por um nome que não é meu, entendo que não devemos nos apegar ao título que as coisas têm, mas sim ao significado que carregam.

Ela pode até trocar meu nome, mas sabe que sou seu neto e isso é o que importa pra mim.

Ela me ensinou, talvez sem querer, que é preciso ter um lugar – e esse lugar pode ser ao lado de alguém – onde você se sente seguro e forte.

Onde parece que nada no mundo é capaz de lhe atingir

E me fez querer que este lugar fosse onde minha alma repousaria, caso eu pudesse escolher.

Aprendi, com minha avó, a sentir o doce que vem depois de provar algo amargo.

Como doce de casca de laranja ou como a vida que bebo todos os dias.

Descobri, junto com ela, que ela sempre foi capaz de ser pai, mãe e irmão ao mesmo tempo em que era avó.

Com ela aprendi a dar valor às palavras, a escolhê-las bem como se fosse a última coisa que eu pudesse falar ou que ela pudesse ouvir.

Aprendi que cultivar um jardim imenso é desperdício se você não puder cuidar de todas as flores com o mesmo afinco. Melhor é cuidar de uma única flor a qual possa dedicar, todos os dias, a mesma porção de carinho.

Pude enxergar o quanto o passado pode ser leve apesar de doloroso. Como mexer em velhas lembranças pode ser engraçado ainda que elas já tenham te machucado um dia.

E como o futuro é promissor, mesmo quando o tempo não é mais aliado de nossa saúde.

Aprendi a agradecer todos os dias por tudo o que possuo, inclusive por possuí-la ainda em minha vida.

Ela me ensinou a dividir segredos, a deixar a verdade escancarada mesmo que isso possa me machucar.

Me falou de Deus com uma admiração que eu não pude deixar de admirá-lo também.

E aprendo com ela a cada amanhecer que a vida é vivida um dia de cada vez, que é preciso agradecer no inicio dele e no final também.

E que um abraço entre uma avó e um neto é o enlace entre o ontem e o amanhã, é o momento exato em que Deus pode tocar as duas almas com a mesma ternura e ao mesmo tempo.

E quando ela me abraça, Ele me abraça também.

N.A: texto dedicado à minha avó Glória Siqueira de Carvalho.

Pela mulher forte que sempre foi e pelo homem razoável que me ensinou a ser.

Como ela não acessa o Recanto, acho difícil que ela leia estas palavras nesta mesma página.

Mas farei questão de dizer isso a ela sempre que puder, enquanto puder:

- Eu te amo, Vó!