Hoje merecida homenagem !

Feito de Barro para uma Cultura Viva

O barro que leva arte. O oleiro que move as mãos para retratar as mais diversas formas de expressões de seu cotidiano. Um menino que ao vender suas artes em um banco de feira não imaginava que seria alguém que representasse tão bem a sua cidade, o seu povo, a sua história.

Esse personagem que se estivesse vivo completaria 100 anos no dia 10 de julho. É Vitalino Pereira dos Santos – Mestre Vitalino. Homem que cresceu e difundiu a sua arte através da argila para todos os cantos do mundo deixou em uma vila (Alto do Moura) adeptos a sua arte. De um ponto a outro naquele vilarejo nem outro nome se combina, seja embaixo da terra, no chão, nos bares ou na argila. Tudo gira em torno do homem que ali vivia que levou seu nome e sua família para uma casa que da argila foi construída. Sua arte por todos imitados, não se repete em nenhum lugar. Não falta a quem admirar.

Inspiração não lhe faltava. Uma análise perfeita da construção do homem nordestino para retratar em suas peças algo que não se vê mais no cotidiano, mas que foi cena de muitos que moram naquela localidade e viram seus entes a partir. As peças de arte são cada vez mais autênticas ao seu mundo enquanto criança, adolescente e finalmente artesão chamavam a atenção de todos que podiam contemplar o criador que sentando no chão e com olhos fixos elaborava suas peças.

Peças que ganharam o mundo como, por exemplo, a banda de pífanos, trio nordestino, os retirantes. Não precisou ser retirante para vencer as barreiras, nem infringir seus pais para ser mais um vencedor.

Homem analfabeto que não se deixou por vencido e por isso mesmo insistiu até que aprendeu a fazer o seu nome e registrar as suas peças. Lá está o seu selo “VPS”.

Inspiração musical não lhe faltou. Um pífano que tocava com arte por onde passava o levou para conhecer o Brasil. Poetas e cantadores levam em suas composições um registro do dom gratuito que ele repassou.

Pensar que só do barro ele constituiu sua família e dela tirar o seu sustento. Nas horas vagas nada como interagir com algo que lhe pudesse proporcionar alegria. Vitalino de muitos nordestinos que por onde chegam reconhece o seu valor. O seu trabalho. Um postal, uma peça, uma foto, um som.

Hoje o seu filho Severino dá continuidade a esse trabalho de valor inestimável. Não deixou de ser dedicado, o trabalho do pai prendado hoje o filho continua com a mesma força de vontade. A casa museu no Alto do Moura é seu local de trabalho. Aberto ao público, o espaço bem preservado conduz o visitante ao passado e mostra o que nenhuma tecnologia faz tão bem como no passado.

Homenagens lhe são prestadas, contudo o desejo é que esse conhecimento não se prenda a arte. É necessário que o resgate vá além do barro, seja continuo. Seja repassada a arte da educação, a arte da música, o gosto pela arte, o cordel do barro e da arte, o barro como fonte de renda, como cultura, como registro de um povo. A vontade de um simples homem que encontrou em sua própria matéria prima o algo novo, o surpreendente gosto de retratar o seu mundo imaginário e real. Não é tardia a sua homenagem para os jovens que nos dias atuais pensam que o conhecimento e arte se compram, e no final não tem nenhuma honraria. Não se leva dinheiro ao caixão, apenas deixa para o povo o registro de sua sabedoria.

O centenário do Mestre Vitalino deve ser visto com um potenciômetro ligado em alta voltagem. “Mesmo sendo famoso sem fortuna morreu, levou consigo a riqueza da arte que até os dias de hoje sobreviveu.” - Literatura de Cordel.

Jornalismo Interativo-Informação com descontração

Obs: Hoje dia 10/07/2012- O mestre Vitalino faria 103 anos!

seravat
Enviado por seravat em 10/07/2012
Reeditado em 10/07/2012
Código do texto: T3770165