Para J. L.

O único ser que poderia ter sido, realmente ou talvez, "meu" - com todas as ressalvas que me afastam dessas palavras /"meu"/"minha"/ - foi-me o companheiro por quase 18 anos. Poderia ter permanecido "meu" companheiro se... se... se... O único homem a quem eu tenho o dever real, efetivo, de pedir perdão. O homem que me mandou, há dias, um e-mail perguntando: "Como você está?" e eu simplesmente não tive até agora, passados já alguns dias, uma única palavra para lhe responder,nada a lhe dizer, nada a dizer a um homem que, mais do que qualquer outro que eu tenha conhecido, passou pela tragédia mais brutal a que um ser tenha que sobreviver, tragédia que, pelo absoluto respeito que sempre deverei a ele, não posso sequer mencionar.

A ti, homem que foste meu companheiro, o meu afeto fundo, meu respeito a ti, ser sobrevivente a si mesmo. Ainda haverei de renascer deste tempo e então poderemos nos tornar os amigos que a vida nos tem impedido de ser, essa vida perigosa, só de veredas, só de almas e de sertões amargos. Retornar ao que já fomos é impossível, como quase tudo se tornou impossível, mas eu te devo a presença da minha amizade, essa eu te devo e dela, da tua amizade preciso, preciso mesmo, neste presente deserto. Sei que precisas da minha amizade também. Nós a teremos, a construiremos, eu prometo, independente das outras Fidelidades Sagradas, que ainda me prendem a este mundo. Uma delas, a que tenho para com minha mãe, a essa conheces muito bem.

Na madrugada de 01 de setembro de 2012.