HOMENAGEM AO GOLEIRO FÉLIX (SELEÇÃO BRASILEIRA DE 1970): lembranças e... Adeus

FÉLIX: UM NOVO PAPEL

Muito tempo faz... Sentado na sala de casa, uma televisão, imagem em preto&branco. Assistia-se a um jogo. Não era um jogo qualquer, era a seleção brasileira que se apresentava.

Dez jogadores de linha e um goleiro no time principal. Conhecidos por suas qualidades excepcionais, os jogadores de linha desfrutavam de enorme fama, mas somente alguns – bem poucos – fizeram fortuna.

O goleiro era maravilhoso, mas criticado à época. Pessoa esforçada, humilde e séria. Todos sabiam do seu denodo, da sua competência e da sua vontade de vencer e contribuir para as vitórias do escrete nacional.

Foram vitoriosos ao final, venceram todas as contendas. Muitos foram endeusados e outros praticamente olvidados. O goleiro parece que foi um desses. Romântico, amoroso e pessoa divertida, todos gostavam dele. Nunca economizava gentileza e simpatia.

O arqueiro era natural de Caratinga, em Minas Gerais, e defendeu Juventus, Portuguesa e Nacional, em São Paulo, e o Fluminense, no Rio de Janeiro. Foi atuando pelo clube carioca que ele acabou convocado para a seleção brasileira de futebol.

Em especial, três jogos marcaram a atuação do atleta naquele julho de 1970: contra os selecionados da Inglaterra, do Uruguai e da Itália. Ele fez a diferença nesses embates. Quem duvidar pode assistir ao vídeo desses jogos.

Papel (como era conhecido na intimidade) colaborou sobremaneira para a conquista do tricampeonato canarinho no estádio Azteca, na Cidade do México, em 1970. Só aqueles que viveram o momento sabem da importância da Taça Jules Rimet para o futebol do Brasil.

Atleta disciplinado e elegante sob as balizas, Félix recebeu outro prêmio significante em 1970: o Belfort Duarte, que homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem ser expulso, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais.

Como atleta, Papel foi campeão do Estadual do Rio de 1969, 1971, 1973, 1975 e 1976, além do Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1970.

Tempos depois, Félix Miéli Venerando, para sustentar a família, trabalhou na loja Ponto Frio, no Rio de Janeiro. Era mais um empregado com mechas brancas nas laterais da cabeça e óculos pendurado no pescoço. Ninguém (ou quase ninguém) sabia quem era aquele senhor.

Naqueles dias, por acaso, souberam do novo emprego do atleta e tentaram fazer uma matéria com o goalkeeper, mas a reportagem foi negada pela chefia da redação de um grande jornal de circulação nacional.

No fundo, eles achavam que aquele sujeito não estava com essa bola toda, talvez pensassem que ele nem a merecia.

Esse é o reconhecimento que recebem nossos ídolos, muitos deles atletas responsáveis e que proporcionaram inúmeras alegrias ao povo brasileiro. São jogados ao léu, afastados do convívio esportivo e depreciados no lugar comum.

Parte da amargura de Félix foi compensada pela Lei Geral da Copa/2012, cujo texto incluiu os benefícios aos campeões mundiais pela seleção, de 1958 até 1970 no México. Depois disso, ele pode receber auxílio financeiro para tratar da sua doença incurável: enfisema pulmonar, a qual o contratou, em 24 de agosto último, para atuar em novas plagas.

Bom pai, marido, avô e atleta, hoje, Papel joga no Paraíso Futebol Clube, no Éden. Obrigado pela alegria proporcionada e por ter feito milhões de brasileiros orgulhosos naqueles dias (e até hoje) de 1970. Você não viveu em vão... Segue em tuas defesas e também, se puderes, defende a todos nós. Um abraço forte de seus admiradores, meu camarada.

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