Ravi Shankar, instrumentista que ajudou a popularizar a cítara e que virou ídolo da juventude hippie buscou desde o inicio da carreira uma forma de levar a tradição indiana aos ouvidos ocidentais, morre aos 92 anos

Se a cítara (um mui pecu­liar e tradicional instru­mento de cordas) e boa parte da ancestral músi­ca da Índia conseguiram ter al­guma ressonância no cenário cultural do Ocidente no século XX, isso se deve a uma só pes­soa: Ravi Shankar. Nascido em 1920, em uma família de instru­mentistas e dançarimos, o india­no se dedicou desde cedo a bus­car uma forma pela qual a rica música de seu povo pudesse en­cantar um público global. Ainda nos anos 1950, Shankar come­çou a levar sua música para os respeitados salões da Europa e dos Estados Unidos. Mas o perí­odo de grande exposição só co­meçaria quando George Harri­son, guitarrista dos Beatles, des­cobriu a cítara, desvendou parte de suas complexidades e a usou na música “Norwegian wood” no que foi seguido por Rolling Stones, Animals e Byrds. Coube ao indiano, em seguida, escan­carar a porta aberta pelo rock.

sucesso incômodo
Levado por Harrison, que se tor­nou seu amigo e discípulo, Ravi Shankar se tornou, inadvertidamente, um símbolo da era hip­pie, ao participar dos festivais de Monterrey (1967) e Woodstock (1969) e do célebre Concerto para Bangladesh (1971), organi­zado pelo beatle, cujo subse­quente disco lhe valeu um prê­mio Grammy.
  Mas os hábitos dos jovens que foram assistir a seus shows nes­sa época desagradaram profun­damente o músico. “Pessoas iam aos meus concertos chapa­das, bebiam Coca-Cola e fica­vam se esfregando com as na­moradas. Eu achava isso humi­lhante e muitas vezes sai do pal­co no meio da execução”, disse Shankar, considerando-se, no entanto, ter sido uma pessoa de sorte, ao participar de um mo­mento de mudança na socieda­de. Ele manteria sua ligação com George Harrison até o fim da vida do beatle, que trabalhou com ele pela última vez no disco “Chants of India” de 1997.
  A vida artística de Ravi Shankar começou aos 10 anos de idade, como dançarino da companhia de seu irmão Uday, com a qual excursionou por Estados Uni­dos e Europa. No entanto, fi­cava evidente a facilidade com que tocava, como autodidata, instrumentos como a cítara, o sarod e a tabla. Depois de ouvir de alguns músicos ocidentais que a música indiana, quando não acompanhada da dança, era repetitiva, Ravi resolveu aprofundar-se nos estudos da cítara com o mestre Allaudin Khan, que pouco antes dissera, sem rodeios, que os seus talen­tos no instrumento estavam sen­do desperdiçados.
  Foi aí que o indiano resolveu deixar de lado a boa vida ociden­tal com a companhia do irmão e voltar ao seu país, para entrar num rigoroso regime de apren­dizado. Depois de sete anos de estudo com Khan, ele iniciou sua carreira, fazendo concertos e trilhas sonoras para balés e fil­mes. Em 1952, voltou a estreitar seus laços com o Ocidente, ao iniciar uma parceria com o violi­nista americano Yehudi Menu­hin, que rendeu três discos.
  Ravi Shankar morreu na terça-feira, em um hospital da Califór­nia, aos 92 anos, de problemas respiratórios e cardíacos. Ele deixa duas filhas: a cantora e pi­anista Norah Jones (que se apre­sentaria domingo no Vivo Rio) e a virtuosa citarista Anoushka, que leva adiante a tradição do pai.
O Globo
Enviado por Germino da Terra em 15/12/2012
Reeditado em 25/12/2012
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