O pranto que veio do sul.

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Diante do jovem, presto um tempo da minha vida.

A juventude alegre que não tive, a música alta, bem entoada, despreocupadamente partilhada com tantos... que também não tive.

E todos – eu sei que todos – estavam brilhando.

Eu presto um tempo da minha vida a pensar e vocês, moços e moças.

Alguns eu sei que olhavam azuis, outros, olhavam verdes ou castanhos... olhavam, sorriam e exalavam frescor e novidades.

E vibravam, faziam hu...ru.

Beijos apaixonados de um amor verdadeiro e tão eterno que poderia acabar na semana que vem.

Ficantes descolados, inovadores.

A beleza que não tive. O tempo feliz que fingi ter.

Amizades risonhas, o compartilhar de afetos, do “que bom que você veio”...”aparece em casa”...

Quantos estavam a sonhar com a conquista! Aquela coisa gostosa, única, carregada de emoção.

Feito o vestibular, a lista dos aprovados e o grito cheio de sorrisos de: “passei, mãe. Passei”.

E a mãe: “você merecia, filho. Você conseguiu. Que Deus te abençoe”.

Claro, algum churrasco comemorativo, mil telefonemas. O pai orgulhoso a contar para os colegas de trabalho. A avó, feliz e eufórica, contava a façanha para a comadre.

Uns estavam quase lá. Outros pensando na carreira. Sonhos. Projetos.

Estradas que levariam vocês a grandes conquistas.

Vocês, moços e moças, rapidamente partiram. Com a pressa que o jovem gosta de ter. Porque jovem detesta esperar.

Que pena! Que dor! Que choro incontido de um país inteiro. A dor dos seus pais não tem limite, é enlouquecedora, sem nenhum consolo.

Mas vocês, em conjunto, estão fazendo a estrada para o sol, onde o brilho é maior que a dor.

Um sol muito mais amarelo que todo o ouro que possivelmente vocês extrairiam dessa vida com as suas conquistas tão sonhadas.

Nessa estrada do sol que, eu sei, vocês não queriam fazer – está carregada de outras bênçãos, de cheiro de primavera, de um amor bonito e fecundo que não vai acabar.

Rapazes e moças, perdoem os erros daquele dia! Sejam felizes onde estão. Continuem sonhando e brilhando. Façam festas sem riscos e na felicidade do abraço profundo e sincero.

E, quando puderem, mandem notícias para os que ficaram e tentem dizer a eles, no meio de um oceano de lágrimas salgadas, que vocês não precisam de um pranto assim tão amargo, mas de alegria pelo pouco tempo de convivência, pela aprendizagem e pelo convívio que foi único na sua singeleza e verdade.

Vocês tiraram férias e todos haverão de se reencontrar .

Fiquem em paz todos vocês.

Com o meu abraço que não é despedida.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 29/01/2013
Reeditado em 04/02/2013
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